Moscovo 1943. Um cortejo de vários milhares de prisioneiros alemães capturados durante e após a Batalha de Stalinegrado é passeado pelas ruas da cidade. Note-se o palanque onde se instalaram as câmaras para filmar toda a cena e depois a difundir. A tradição russa de passear prisioneiros pelas cidades para os sujeitar às humilhações da população civil é portanto uma prática antiga, pelo menos com 70 anos. Já vi muitas fotografias deste mesmo género, há mesmo vídeos no you tube, mas não me recordo de manifestações de solidariedade para com o tratamento sofrido pelos alemães. Acrescento mesmo que, na legenda que acompanha a fotografia acima (recolhida de A Segunda Guerra Mundial, Raymond Cartier, Vol. 3, p. 117) se precisa que os prisioneiros alemães sorriem e fazem sinais à multidão, para eles a guerra acabara. Uma alegria, apetece ironizar. O que haverá de novo nas fotografias que nos chegam de Donetsk, aproximando-se, individualizando as expressões dos prisioneiros, é a manifesta intenção de nos despertar simpatia pela sua sorte, como se constata pelo caso exemplar daquela que foi ontem utilizada pelo Público na sua primeira página. Porém, a humilhação que se percebe nas expressões das dezenas de ucranianos abaixo não deve ser muito diferente da que só se pode adivinhar nos milhares de alemães acima, de quem muito poucos se condoeram. A proximidade ou a distância humanizam ou desumanizam conforme as conveniências da propaganda. Tudo é relativo, resumir-se-á a uma questão de enquadramento que pode transformar (numa lógica imorredoura atribuída, nem de propósito, a Staline) a desdita de alguns numa tragédia e a desdita de muitos milhares numa estatística.
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