28 agosto 2014

A HABILIDADE DE SABER LER JORNAIS

Ainda hoje o Expresso se orgulha dos seus meses iniciais e das dificuldades que sofreu então às mãos da censura. Um artigo de opinião como este acima, assinado por Francisco Sá Carneiro e publicado em Novembro de 1973, no rescaldo das eleições legislativas daquele ano, é rematado com uma caixa publicitária com os dizeres Expresso, um jornal para saber ler, que os leitores do jornal de então conheciam o significado: a censura cortara o texto de Sá Carneiro no equivalente àquele espaço. Mais de 40 anos depois a censura formal não passa de uma evocação histórica, mas não pude deixar de pensar no mesmo conceito das notícias dadas para os leitores saberem ler quando vi a notícia abaixo, publicada ainda hoje. O tema é completamente diferente: é um caso criminal. Em nenhum lado se pode escrever, porque socialmente incorrecto, que os condenados são ciganos, e é assim que, apelando à cumplicidade do leitor, é a fotografia que o sugere. É irónico que a redacção do título pareça destinada a acirrar a antipatia do leitor pelos réus e nesse sentido seja uma notícia de uma parcialidade gritante. Mas qualificá-los de ciganos é que parece verdadeiramente censurável e a evitar…

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