Quando Niall Ferguson escreveu Colossus, o Preço do Império da América em 2004 (já há dez anos…), chamou a atenção para os três défices (p. 290) que já então perturbavam e que cada vez perturbariam mais a projecção do poder dos Estados Unidos à escala mundial: progressiva exiguidade de recursos financeiros, diminuição de recursos humanos e aquele que considerava o mais difícil de superar e que designou por défice de atenção: a (in)capacidade da opinião pública norte-americana em lidar com problemas que, pela complexidade da sua resolução, superem os ciclos eleitorais internos dos Estados Unidos (4/8 anos de um ou dois mandatos na presidência).
Raras vezes essa ultima limitação se tem tornado tão visível quando ontem, por ocasião do discurso de Barack Obama a respeito da situação no Iraque e da iniciativa de desencadear uma operação aérea. Arranjara-se umas vítimas convenientes para salvar, os yazidis, que quase ninguém sabe que existiam antes de evocados, salvavam-se os bons, castigavam-se os maus. Mas, por muito que o presidente produza um discurso naquele estilo profissionalmente composto que lhe conhecemos, percebe-se o quanto o Iraque (assim como o Afeganistão) é para Obama um conflito antigo, uma herança de George W. Bush, que lhe merece uma atenção apenas relutante, face aos conflitos seleccionados pela sua administração, como as revoltas nos países árabes (Egipto ou Síria) ou a desforra que os russos têm desencadeado na Ucrânia.
Depois de mais de dez anos de um generosamente financiado programa de nation building, a evidente incapacidade do regime iraquiano em suster a ameaça de fundamentalistas islâmicos ressuscita, naqueles que ainda se lembram, os fantasmas de um colapso como o do Vietname do Sul na Primavera de 1975. Acentuando o paralelo, os mapas de guerra (acima) mostram-nos que já existe uma ampla mancha de infiltração das forças dos fundamentalistas islâmicos (assinalada a rosa). Um pormenor final de uma manipulação que é recorrente: note-se a sugestão na rota dos aviões, fazendo-os originários do mar como aviação embarcada. Mostrando-os operados a partir de porta-aviões os Estados Unidos mostram ter uma autonomia que de facto não existe. Parte dos aviões envolvidos operaram obrigatoriamente a partir de bases aéreas localizadas nos países vizinhos, mas nos vídeos divulgados pelo Pentágono as descolagens são SEMPRE de porta-aviões.
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