01 fevereiro 2011

PORQUE É QUE A COTAÇÃO DOS PORCOS PODE SIGNIFICAR UM ALÍVIO NA PRESSÃO SOBRE AS TAXAS DA DÍVIDA PORTUGUESA

Quando escrevo postes sobre estampidos financeiros, acanho-me. Em primeiro lugar, porque nunca apascentei gado, e tenho dificuldade em compreender aquele fenómeno (quando o gado colectiva e inexplicavelmente sai disparado num determinado sentido) que se assemelha muito às causas que fazem com que as notícias económicas ganhem o destaque de cabeçalho de primeira página. E em segundo lugar, porque, para que os estampidos do mercado pareçam fazer mais sentido do que as deambulações de um rebanho de ovelhas (por exemplo) por um prado, o universo da informação está saturado de especialistas económicos… De que serve então esta minha humilde contribuição?

Vale a pena esclarecer previamente que a contribuição foi desencadeada por uma daquelas notas de rodapé do Canal Bloomberg, que anunciava que a cotação dos porcos vivos (hogs) atingira um valor máximo desde há 25 anos… Chegados aqui, há alguns esclarecimentos que se impõem, tanto sobre o mensageiro (o Bloomberg) como sobre a mensagem (os porcos). Durante os últimos meses, Bloomberg destacou-se por ser um dos inúmeros Amigos da Onça quanto à capacidade dos países da periferia da Europa conseguirem resolver o problema das suas dívidas soberanas. Quem precisasse de fundamentação para escrever porque é que a Grécia, a Irlanda, Portugal não se podem safar, vai ao site e traduz. Um exemplo:
Mesmo assim, os investidores globais prevêem que pelo menos um país irá abandonar o Euro nos próximos cinco anos e que a Grécia e a Irlanda se irão atrasar no pagamento das suas dívidas externas. Cinquenta e nove por cento dos inquiridos responderam, numa sondagem global Blomberg (?) realizada este mês, que um ou mais dos dezassete países da zona Euro tê-la-á abandonado em 2016, incluindo onze por cento que antecipam que irá haver uma saída dentro dos próximos doze meses. As respostas aparecem divididas quanto à hipótese de Portugal também entrar em falta nos seus pagamentos externos enquanto existe uma maioria de inquiridos que manifesta confiança na Espanha.

Quanto aos porcos (vivos) e à sua cotação ascendente, tenho que os remeter (aos leitores, não os porcos...) para um par de postes que aqui escrevi, em Novembro de 2007 e Abril de 2008, onde me questiono se a formação dos preços internacionais do variado cabaz de bens que, à falta de melhor, se designa em inglês por commodities, é afectada, para além dos tradicionais mecanismos de ajustamento económico da Procura e da Oferta, pelo enorme movimento global de fluxos financeiros quando à procura de uma maior rentabilidade para os capitais. Os dois postes foram colocados em momentos de alta das cotações do petróleo e dos cereais quando as justificações clássicas para atingir aqueles valores sairiam forçadas…
E são notícias fornecidas também pelo próprio Bloomberg que nos esclarecem sobre uma alta generalizada nas cotações das commodities. Os tais porcos (vivos) atingirem um preço máximo deste Abril de 1986. A causa é atribuída a uma febre aftosa que atingiu os porcos sul coreanos. O petróleo atingiu uma cotação máxima desde inícios de Outubro de 2008. Será o receio que a situação egípcia afecte o tráfego do Canal do Suez. A cotação do cacau subiu 10% este mês por causa da situação por resolver na Costa do Marfim. A do trigo subiu 6% por causa das cheias na Austrália. E dispensando o mesmo género de explicações simplistas anteriores, também as cotações do cobre e do algodão atingiram recordes.

Entretanto a cotação do ouro – a aplicação de refúgio em caso de instabilidade – desceu e é o mesmo Bloomberg que, a propósito da crise das dívidas dos países periféricos da zona Euro, encarada até agora com o optimismo que se leu acima, publica hoje um artigo em que começa por equiparar o BCE (Banco Central) europeu ao FED norte-americano, no sentido da máxima que estabelece que os especuladores que os tentarem defrontar acabam sempre por sair derrotados: Don’t Fight the Fed¹. Vindo de onde vem, e relembrando quanto a situação permanece, mesmo assim, muito séria para os países devedores, pergunto-me se será isto sinal que os mercados mudaram de pouso e vão-se dedicar agora às bifanas?…
¹Não enfrentes o FED. Como se deduz do texto, o FED é o Banco Central dos Estados Unidos.

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