08 fevereiro 2011

SE CALHAR TAMBÉM FUI DE UMA GERAÇÃO SEM REMUNERAÇÃO…

A propósito do furor em redor deste último sucesso dos Deolinda (acima), lembrei-me dos anos em que a minha geração chegou ao mercado de emprego (1984-85), quando as regras de austeridade do FMI estavam de facto em vigor em Portugal e o organismo parecia representar muito mais do que uma mera sigla de arremesso político. E de como eu, jovem recém-licenciado por uma Universidade que eu julgava ter algum prestígio (Universidade Católica Portuguesa), depois de alguns meses de entrevistas (e testes, estavam a entrar na moda os testes…), cheguei a equacionar seriamente a hipótese de aceitar um estágio numa respeitável empresa cuja remuneração mensal que me ofereciam (15.000$) equivalia a 78% do ordenado mínimo nacional então em vigor (19.200$)… Como aliciantes complementares, especificavam-me que o Passe (Social) me era pago à parte e que, além disso, podia almoçar diariamente na cantina…
Os acasos fizeram com que acabasse por aceitar um outro emprego também em regime experimental mas melhor remunerado – não muito, mas onde me pagavam ligeiramente mais do que o salário mínimo… Explicando a diferença de atitudes, suponho que a fotografia acima espelhe o que mudou nestes 25 anos e que condicionará a forma como esta geração aceitará as contrariedades da vida. Tirada na década de 1970 nela se vê um trabalhador provavelmente pouco qualificado a contemplar sonhadoramente uma montra de electrodomésticos, engendrando a forma de comprar um. Mas, para isso, haveria que poupar porque ao contrário do que hoje acontece, a montra não está coberta de autocolantes promovendo facilidades de pagamento. Será atitude que esta geração sem remuneração talvez não saiba compreender, tendo eles crescido habituados a ter tudo o que quisessem, pagando quando pudessem…
A sério e analisando a letra da canção para lá dos aplausos e das manipulações interpretativas, se se é escravo com estudos, sem eles ser-se-ia então o quê?...

2 comentários:

  1. Caro A. Teixeira,
    Não concordo que as coisas estivessem assim em 1985.
    Nessa altura, havia ainda poucos licenciados no mercado e era uma questão de tempo até se arranjar um trabalho adequado à formação.
    Hoje, os filhos dos meus amigos estão quase todos emigrados (londres, bruxelas,berlim, barcelona, madrid, roma, marrocos, angola, moçambique).
    Até com experiência há falta de trabalho.
    O caso mais invulgar que conheço foi o do filho de uns amigos nossos que esteve 2 anos a trabalhar nos confins do deserto da Argélia, totalmente isolado (só ele, engenheiro, e um outro , mecânico).
    E foi o trabalho que apareceu -- sempre sujeito a ser raptado pelos extremistas islâmicos, num fim do mundo.
    Nunca Portugal teve tantos jovens com preparação e vontade de trabalhar.
    Bem mais preparados do que a minha geração e sem as oportunidades que nós tivemos.

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