Nas análises que se fazem acerca do problema afegão e da contribuição paquistanesa para a sua solução, apercebo-me de quanto quem analisa não costuma ter consciência das fragilidades paquistanesas, limitando-se a repetir o lugar comum que quase nada se fez e faz do lado paquistanês da fronteira contra os guerrilheiros talibans porque é do próprio interesse dos militares paquistaneses que nada se faça contra eles.
A recente sucessão de atentados no Paquistão, alguns deles visando especificamente instalações dos serviços de informações do exército paquistanês (ISI), reputadamente os tais que, na versão dos analistas, davam a tal cobertura aos talibans, parecem tirar as dúvidas à ideia que aqui tinha adiantado: até aqui e para o exterior, os militares preferiram camuflar por duplicidade aquilo que não passava afinal de impotência…
E se essa constatação é importante numa perspectiva internacional é crucial do ponto de vista interno. Nas crónicas internacionais, costumam apontar-se vários estados falhados: a Somália, a Libéria, Serra Leoa. E depois há outros que, pela sua dimensão e pelos problemas que resultariam do seu desaparecimento é melhor não se apontarem: a Birmânia é um deles, a Indonésia provavelmente outro e o Paquistão é-o definitivamente.
Já se passaram 62 anos desde a constituição do Paquistão, o Estado dos Muçulmanos da Índia, e o exército paquistanês continua mais poderoso que nunca para defender esse Estado das hipotéticas ameaças do grande vizinho de maioria hindu mas, na sua essência, o conjunto das regiões que formaram o Paquistão não parecem ter progredido grandemente para a constituição daquilo se costuma designar por consciência nacional
Pior, parece ter ficado para os militares a responsabilidade dessa constituição mas, ao contrário, da Birmânia, onde há um núcleo demograficamente maioritário de birmaneses, e ao contrário da União Indiana onde, não havendo possibilidades que se constitua esse bloco maioritário, o poder tem de ser exercido por coligações de grupos de geometria variável, no Paquistão a disputa obriga-se a ter de assentar entre sindis e punjabis.
E se essa constatação é importante numa perspectiva internacional é crucial do ponto de vista interno. Nas crónicas internacionais, costumam apontar-se vários estados falhados: a Somália, a Libéria, Serra Leoa. E depois há outros que, pela sua dimensão e pelos problemas que resultariam do seu desaparecimento é melhor não se apontarem: a Birmânia é um deles, a Indonésia provavelmente outro e o Paquistão é-o definitivamente.
Já se passaram 62 anos desde a constituição do Paquistão, o Estado dos Muçulmanos da Índia, e o exército paquistanês continua mais poderoso que nunca para defender esse Estado das hipotéticas ameaças do grande vizinho de maioria hindu mas, na sua essência, o conjunto das regiões que formaram o Paquistão não parecem ter progredido grandemente para a constituição daquilo se costuma designar por consciência nacional
Pior, parece ter ficado para os militares a responsabilidade dessa constituição mas, ao contrário, da Birmânia, onde há um núcleo demograficamente maioritário de birmaneses, e ao contrário da União Indiana onde, não havendo possibilidades que se constitua esse bloco maioritário, o poder tem de ser exercido por coligações de grupos de geometria variável, no Paquistão a disputa obriga-se a ter de assentar entre sindis e punjabis.
Em contrapartida, há outros grandes grupos étnico-linguísticos paquistaneses, que mantêm laços de parentesco próximos com as populações do outro lado das fronteiras com o Irão e com o Afeganistão, como acontece com os baluches e os pashtuns que, por razões históricas e por vontade dos próprios ou alheias, nunca terão participado significativamente na definição das políticas paquistanesas. Essa parece ser a essência do conflito actual.
Estes dois últimos grupos (ver o mapa mais abaixo e a sua distribuição respectiva) de há muito – desde o tempo colonial – estabeleceram uma espécie de modus vivendi tácito com os outros grupos, assente no respeito pelas respectivas áreas de influência. Instados pelos norte-americanos a desmascarar o bluff, os poderes de Islamabad defrontam-se agora com uma guerra de contra-subversão que é ao mesmo tempo civil e colonial.
Nunca tendo estado verdadeiramente unido, o Paquistão corre agora o sério risco de precipitar a desagregação. Por curiosidade e para evidenciar quanto o Paquistão ainda é, de uma certa forma, um verdadeiro mosaico de povos, utilizei para separador dos parágrafos deste poste uma bandeira de sete dos estados principescos que em 1947 se haviam fundido para virem a fazer parte da nova nação. Também estão assinalados a cores no mapa final.
Assim, de cima apra baixo, temos sucessivamente as bandeiras dos antigos estados de Bahawalpur com 45.900 km² (assinalado a laranja), de Dir, com 5.300 km² (a vermelho), de Kalat, com 30.000 km² (a verde-claro), de Khairpur, com 15.800 km² (a amarelo vivo), de Kharan, com 48.000 km² (a azul-claro), de Las Bela, com 18.300 km² (a grená) e de Swat, com 8.200 km², (a azul-escuro).
Tomo a liberdade de informar que 'Abdu'l-Bahá, filho mais velho do Profeta fundador de Fé Bahá'í, afirmou que no futuro o Paquistá volverá a Índia.
ResponderEliminarO próprio nome do país provem das iniciais das várias regiões étnicas acrescentado do sufixo "an".
ResponderEliminarObrigado Diogo.
ResponderEliminarSe for ver outras entradas anteriores neste blogue acerca do Paquistão verá que o assunto da formação do país, a começar pela criação do seu nome, que apenas data de 1931, já havida sido por mim tratado.