06 novembro 2009

A FUGA DE CONRAD SCHUMANN

Dentro de alguns dias o tópico Muro de Berlim vai ficar a escaldar: a 9 de Novembro comemoram-se 20 anos da sua queda. Antes disso, quero aqui falar de uma famosa fotografia (e também de um filme) a ele associados, que datam ainda da fase da edificação do Muro, em 15 de Agosto de 1961. A história do evento (como hoje se designaria…) rezará assim: Conrad Schumann decidira fugir e de alguma forma, ele, um jovem membro de 19 anos da polícia da Alemanha Democrática, conseguira avisar os seus homólogos de Berlim Oeste, que o esperavam com um carro para o levar de imediato do local da fuga, após esta.

Mais do que isso, era intenção mais do que provável dos alemães ocidentais filmar a deserção para a utilizar depois como material de propaganda. Possivelmente com essa mesma intenção, alguém da polícia do lado ocidental também dera uma dica ao fotógrafo Peter Leibing sobre a eventualidade dessa fuga. E ele lá estava… para fazer a fotografia que o havia de tornar famoso. Na hora da verdade, o filme (acima) acabou por não sair grande coisa: a câmara estava pronta e o filme dura uns 15 segundos, mas o operador estava tão mal colocado que o fugitivo acaba por quase o atropelar durante a corrida para a carrinha que o havia de levar.
Ficou a fotografia com o instantâneo do salto por cima do rolo de arame farpado. Há um outro sinal que a fuga fora preparada de antemão: enquanto salta, Schumann prepara-se para abandonar a arma (trata-se de uma PPSh-41), num gesto que não parece instintivo mas que cria naquele preciso momento uma diversão que diminui as probabilidades que os seus colegas reajam. Como peça de propaganda a fotografia original (acima) ficou muito melhor do que o filme embora contivesse um pormenor que a desvalorizava imenso: era a presença do operador de câmara do lado esquerdo que lhe dava um aspecto de cena encenada…
Nas versões mais divulgadas da fotografia (como a de cima) o operador de câmara não passa de uma silhueta enquanto, para a manter esteticamente equilibrada, se tenta salvar o que for possível da placa do lado direito, que é primordial para o significado imediato da fotografia, pois é ela, ao assinalar a fronteira entre os sectores francês e soviético, que nos transporta de imediato até Berlim dividida. Fica para o final esclarecer que a história deste fugitivo não tem um final feliz: instalado na Baviera, Conrad Schumann assistiu à queda do Muro que ele vira, literalmente, começar a ser construído, para depois se vir a suicidar em 1998.

Como curiosidade veja-se acima um aproveitamento comercial do evento.

5 comentários:

  1. Muito interessante. Gostei de saber do acontecimento em si, que não conhecia como, mais uma vez, da manipulação fotográfica com vista à manipulação política. Aspecto, aliás, que já aqui focaste mais do que uma vez.
    Olha se já havia fotoshop?

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  2. "Melhor" que fotoshop, Donagata, é esta escultura real de que nem Stalin se lembraria para promover os seus homens de ferro: http://www.dw-world.com/image/0,,4321349_4,00.jpg

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  3. A adulteração de fotografias antecede o fotoshop, Donagata. Este apenas industrializou o que antes se fazia artesanalmente.

    Quanto à manipulação de certas fotografias com intuitos políticos foi uma "benesse" que Deus distribuiu pelo Mundo para que tocasse todos os espectros políticos. Claro que, conforme estes últimos, haverá umas que nos suscitam comentários e outras não, não é verdade António Marques Pinto?

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  4. Como o meu comentário ilustra, António Teixeira, o meu espectro de comentários (satíricos) vai pelo menos até Staline. Mas também sei que TODA a informação é manipulação - desde logo pela selecção do assunto, passando pelo respectivo enquadramento e podendo ir até ao comentário final. Veja o caso de "O Muro" para o qual o próprio António Teixeira sabiamente alertou um dia destes.

    Tendo por certo que toda a história tem autoria e montagem, resta-nos assumir as escolhas que fazemos.

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  5. Não é verdade que TODA a informação é manipulação.

    Acredito que haja quem pretenda isso, mas isso não é demonstrável de forma absoluta como, por exemplo, que 2 + 2 = 4.

    E, por exemplo, também não se lhe pode atribuir uma probabilidade como a que estipula que, se se atirar uma moeda ao ar por cinco vezes, a probabilidade que saia sempre cara, é de 3%.

    Isto parecem-me exemplos claros de informação não manipulada.

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