
Olhando para a evolução do pensamento político actual sobre a dinâmica da alternância democrática, parece que já se passou daquele
realismo de aceitar que ela acontece mais por demérito do governo do que por mérito da oposição, para o
cinismo da constatação imediata, a de preconizar apenas persistência à oposição porque a alternância virá fatalmente a acontecer com a acumulação dos erros governamentais. Nem será preciso que a oposição se esforce por aí além, o que é preciso é que exista e se lamente. Embora por vezes tenha os seus fracassos... Recordemos que, no Verão de 2003
houve uma excepcional vaga de calor em toda a Europa durante o mês de Agosto. Lá de fora, especialmente de França, chegavam-nos os ecos de um enorme escândalo político, com serviços de saúde mal preparados para aquela emergência, tendo como consequência um número anormalmente elevado de mortes de idosos, presumivelmente devido às temperaturas anormalmente elevadas.

A oposição portuguesa, aproveitando aquela
boleia,
farejando a confusão e mesmo sendo Agosto, resolveu levar o problema ao Parlamento:
- Bute aí! Lá chegados, foi um fiasco monumental, porque a táctica governamental foi a de pedir à oposição que sustentasse a acusação com os dados oficiais sobre as mortes adicionais que a vaga de calor estaria a provocar… Ninguém fizera
os trabalhos de casa, não havia estudos científicos – estava tudo de férias... – e
as bocas dos jornais não tinham qualquer sustentação… O relatório lá acabou por sair – em Abril de 2004! – e as conclusões até confirmavam a tese da oposição,
a de que houvera mortes adicionais por causa do calor… Tarde demais! Por acaso, parte da oposição de então hoje é governo (PS) e os partidos que estavam no governo estão agora na oposição (PSD e PP), mas isso será irrelevante porque a preguiça dos partidos em ter gabinetes de estudo seus que sejam autónomos dos do aparelho do estado é transversal ao espectro partidário
(*)…

Eu não pretendo ensinar como se deve fazer oposição a um político
experimentado como José Pacheco Pereira, aquele que passa – e não tem desmentido… – por ser
o cérebro do PSD actual. Mas também tenho a minha ideia – e não propriamente inspirada
no cérebro dele que prefiro usar o meu… – da forma como deve agir a oposição. E quando o filósofo que pensa
pela oposição pensa
a oposição da maneira que ele a tem descrito, então creio que algo estará muito mal
na oposição... É que José Pacheco Pereira, falando pela oposição,
não se pode vir queixar agora que o governo tenha escondido, em plena campanha eleitoral, as broncas da sua actuação, especificamente a situação financeira. Essas
omissões são da natureza das lutas políticas e, por sua vez, teria sido o momento ideal para a oposição dar publicidade
prévia – houvesse
trabalho de casa feito… – aos
péssimos indicadores macroeconómicos que Teixeira dos Santos agora vai
largando como
molares do seu queixal…

Em vez disso, na campanha do PSD preferiu falar-se da
asfixia democrática e, sobretudo, de como José Sócrates é mesmo um
mau carácter. Foram opções de campanha com os resultados eleitorais conhecidos: desta vez o PSD teve mais 1.352 votos do que no tempo do
Menino Guerreiro(**)... Agora a responsabilidade do que
só se sabe depois das eleições e que se deveria ter sabido antes é também de quem definiu a estratégia do partido do autor dessa frase. Se
se pressentia e sabia que a economia e as finanças estavam muito mal, então devia ter sido feito um esforço entre
a plêiade de economistas do PSD para descrever o
próximo apocalipse, numa espécie de
discurso à Medina Carreira, mas em
coral gregoriano… Até acontece que, na análise desses tópicos da macroeconomia,
a concorrência dos organismos do estado tem estado entregue à pessoa de Vítor Constâncio, que não tem sido considerado propriamente
um monumento,
nem à responsabilidade,
nem à credibilidade…
(*) Assinale-se a excepção do PCP. Mas o PCP há muitos anos que não tem tido acesso aos meios do aparelho do estado. (**) A votação subiu de 1.653.425 em 2005 para 1.654.777 votos este ano.
Creio que a única diferença é que, quando o governo dá um tiro no pé, a oposição pisa uma mina...
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