Um dia, ao ler uma crítica de um livro na Amazon, descobri que existia uma descrição irónica sobre o método para tornar um livro mais extenso: Escrevendo antecipadamente sobre aquilo que se vai escrever, escrevendo depois sobre o que se quer escrever e escrevendo para terminar sobre o conteúdo do que se escreveu(1). Tal descrição aplica-se rigorosamente a Em Nome da Pátria, da autoria de João José Brandão Ferreira e às 551 páginas que o seu livro contém, resultantes, numa parte substancial, de repassagens consecutivas pelos mesmos temas, repisando as mesmas ideias, que o autor, sobre o vasto tema sobre o qual se propõe escrever – Portugal, o Ultramar e a Guerra Justa – não me parece que tinha assim tanto para dizer que justificasse tal espessura.
Para mais, se o livro me parece artificialmente inflacionado na quantidade da informação que o autor teria para nos transmitir, também me parece enganosamente ilustrado, com a capa (acima) e com 27 fotografias interiores mostrando vários momentos das Guerras de África (com fuzileiros, pára-quedistas, tropas combatentes em acção, sempre gente anónima), em completo desacordo com a abordagem que é feita à questão proposta, que rara e escassamente é técnica(2), optando-se pelos grandes protagonistas e pela ideologia. Contudo, realce-se que nenhum dos grandes figurantes foi escolhido para qualquer das 27 fotografias, nem mesmo o Professor Salazar, que é o indiscutível herói do livro. É uma omissão que, de tão forçada, acaba por tornar-se hipocritamente desajustada…
E, por mencionar as fotografias, vale a pena mostrar aquela que foi escolhida para figurar em último lugar (acima), que desempenha praticamente o papel de contracapa e que contém a seguinte legenda: Fotografia emblemática dos portugueses na guerra. Considero que essa legenda final é também emblemática do conteúdo das 551 páginas anteriores. Uma certa forma de narrar o processo histórico, distorcendo uns factos, omitindo outros e falsificando ainda outros para que eles se conjuguem e formem um passado e uma evolução histórica que se possa ajustar às concepções ideológicas do autor. Coerentemente, nem mesmo as repassagens pelos mesmos temas mencionadas acima evitam que os mesmos disparates se voltem a repetir sobre o mesmo assunto(3).
Porém, é um livro utilíssimo. Porque são raros, são também raras as ocasiões em que os verdadeiros fascistas têm oportunidade de publicar as suas visões da história. Para que as apreciemos despojadas de demagogia. É o caso deste livro que serve para mostrar a falta de densidade intelectual de João José Brandão Ferreira. E a minha conclusão final é que não vale a pena levá-lo a sério. Porque, entre outras, pega numa fotografia de propaganda e pretende-nos fazer crer que ela é emblemática dos portugueses na guerra. Comparando-o com o cartaz abaixo, que é quase igual e data da ocupação alemã da França, será ele também emblemático dos alemães na guerra? Nos dois casos, a resposta à questão não pertencerá mais às crianças do que aos soldados?…
Para mais, se o livro me parece artificialmente inflacionado na quantidade da informação que o autor teria para nos transmitir, também me parece enganosamente ilustrado, com a capa (acima) e com 27 fotografias interiores mostrando vários momentos das Guerras de África (com fuzileiros, pára-quedistas, tropas combatentes em acção, sempre gente anónima), em completo desacordo com a abordagem que é feita à questão proposta, que rara e escassamente é técnica(2), optando-se pelos grandes protagonistas e pela ideologia. Contudo, realce-se que nenhum dos grandes figurantes foi escolhido para qualquer das 27 fotografias, nem mesmo o Professor Salazar, que é o indiscutível herói do livro. É uma omissão que, de tão forçada, acaba por tornar-se hipocritamente desajustada…
E, por mencionar as fotografias, vale a pena mostrar aquela que foi escolhida para figurar em último lugar (acima), que desempenha praticamente o papel de contracapa e que contém a seguinte legenda: Fotografia emblemática dos portugueses na guerra. Considero que essa legenda final é também emblemática do conteúdo das 551 páginas anteriores. Uma certa forma de narrar o processo histórico, distorcendo uns factos, omitindo outros e falsificando ainda outros para que eles se conjuguem e formem um passado e uma evolução histórica que se possa ajustar às concepções ideológicas do autor. Coerentemente, nem mesmo as repassagens pelos mesmos temas mencionadas acima evitam que os mesmos disparates se voltem a repetir sobre o mesmo assunto(3).
Porém, é um livro utilíssimo. Porque são raros, são também raras as ocasiões em que os verdadeiros fascistas têm oportunidade de publicar as suas visões da história. Para que as apreciemos despojadas de demagogia. É o caso deste livro que serve para mostrar a falta de densidade intelectual de João José Brandão Ferreira. E a minha conclusão final é que não vale a pena levá-lo a sério. Porque, entre outras, pega numa fotografia de propaganda e pretende-nos fazer crer que ela é emblemática dos portugueses na guerra. Comparando-o com o cartaz abaixo, que é quase igual e data da ocupação alemã da França, será ele também emblemático dos alemães na guerra? Nos dois casos, a resposta à questão não pertencerá mais às crianças do que aos soldados?…
(2) Para exemplo da superficialidade técnica, mencione-se a página 423 onde há uma referência encadeada a helicópteros Bell 212 (fornecidos) e UH-1 (recusados) em que o autor (por acaso, antigo oficial da Força Aérea…) mostra desconhecer que está a referir-se à versão civil e militar da mesma aeronave.
(3) O presidente Jânio Quadros é qualificado repetidamente por Brandão Ferreira de cripto-comunista (pp. 74 e 363). Ora, só um ignorante chapado da história política brasileira recente é que escreveria isso.
Muito interessante esta análise. Também acho que se deve conhecer o pensamento, digo, o argumentário do inimigo - expressão minha - para elaborar um juizo sobre "a guerra" que travamos. Nem que seja apenas a guerra da informação.
ResponderEliminarSó deixo um reparo sobre o que suponho ser um erro involuntário de redacção, do António teixeira: «... são também raras as ocasiões em que os verdadeiros fascistas têm oportunidade de publicar as suas visões da história. Para que as apreciemos despojadas de demagogia.
Após a leitura desta "recensão" das
ResponderEliminartretas em apreço,fiquei elucidado.
Não vou contribuir para o "sucesso"
editorial de um verdadeiro fascista
Só para nós, o António confirma o
texto do M.B.S.,com um acrescento
de notar, aquelas fotos com os
miúdos. Óptimo post.
A expressão será sua António Marques Pinto, que eu não chego ao ponto de considerar o autor deste livro um "inimigo", é apenas um idiota com a pretensão de tentar distorcer a história em função da sua ideologia, rara nos dias que correm.
ResponderEliminarIdiotas que não "inimigos" com as mesmas pretensões mas por conta de uma outra ideologia que suponho lhe seja mais simpática, esses são, infelizmente, ainda muito frequentes...
Foi coincidência termos publicado na mesma altura Paulo, mas o texto do Beja Santos está mais desenvolvido que este.
ResponderEliminarA leitura das ideias deste Brandão Ferreira cansam mesmo e quanto mais se escreve sobre o que ele pensa, mais tendemos a descair para o desprezo. Tentei evitá-lo, não sei se consegui.
Estava a pensar em adquirir o livro, mas pelo que diz aqui será uma obra que não traz nada de novo. Tenho alguma simpatia pelo Brandão Ferreira, sigo o seu pensamento e obra, e embora estejamos a falar de alguem que assume muito claramente o seu partido, reconheço-lhe alguns argumentos bastante válidos.
ResponderEliminarSem querer fazer sua defesa nem atacar alguém, creio ser desprovido de sentido adjectivar Brandão Ferreira de "fascista" e muito menos de "inimigo". Estaremos a falar de um imperialista como tantos os outros, conservador de base. Como aliás foi apanágio nos oficiais QP da Força Aérea até 74'.
Mário Beja Santos é um europeísta e aborda as guerras de Àfrica a partir de uma perspectiva estruturalista. João José Brandão Ferreira parte de um ângulo "portuguesista" e de uma abordagem histórica.
Acima de tudo isto, é de felicitar que todos os lados do conflito escrevam, publiquem e deixem registado para o futuro as suas ideias e razões.
Por tudo o que escreveu, DMSR, acho preferível que consulte o livro antes de se decidir ou não pela sua aquisição, porque aquilo que procuramos numa obra daquelas parece-me diferir substancialmente.
ResponderEliminarEm primeiro lugar, porque não reconheço que a assumpção “muito clara do seu partido” seja um predicado, só por si. Também me daria jeito que me indicasse um ou dois exemplos dos seus argumentos que considera válidos, para perceber do que está a falar.
Além disso, permita-me esclarecê-lo que fascista é fascista, é um adepto de uma ideologia datada, mas não o emprego como um insulto. Mas sei que uma outra coisa será ser-se conservador, como o classifica. Quem é conservador não costuma apelar à insurreição armada, como já ouvi a Brandão Ferreira…
Não percebo o seu terceiro parágrafo. Fala em “perspectiva estruturalista”, em “ângulo portuguesista” e em “abordagem histórica”. O que é que isso quer dizer? Em contrapartida, quanto ao parágrafo, deixe-me esclarecê-lo que, ao contrário de Beja Santos, Brandão Ferreira não é neste assunto “lado de nenhum conflito”. Terá todo o direito às suas ideias mas a verdade é que não participou nele…
Como acontece de resto com alguns comunistas do outro lado do espectro, há fascistas que me divertem com a maneira como fraseiam as suas ideias, evitando assumir as derrotas do passado ou os anacronismos da ideologia com as realidades dos tempos modernos. Será o caso, por exemplo, de Jaime Nogueira Pinto. Mas Brandão Ferreira nem tem essa elegância. Repetindo-me: é apenas um idiota com a pretensão de tentar distorcer a história em função da sua ideologia
Brandão Ferreira e Nogueira Pinto são herdeiros do pensamento do Estado Novo. Um pensamento conservador ou ultra-conservador mesquinho, que hoje continua na direita conservadora democrática. São nesse aspecto autores interessantes na análise da guerra de Àfrica e do Estado Novo.
ResponderEliminarPossuem argumentos válidos na legitimização da intervenção militar em 61'...nas condenações ao preocesso de tranferência de poder dos territórios africanos após o 25/4...só por interferência ideológica se pode discordar.
Como o André Teixeira disse, o fascismo tem o seu espaço bem delimitado. Ora nem Brandão Ferreira nem Nogueira Pinto se situam nesse espaço. Não são revolucionários, não são progressistas, não procuram uma nova ordem (como Rolão Preto). Pelo contrário são reaccionários e desejam conservar a antiga organização social. Tal como os que fizeram as insurreições armadas na Vilafrancada, na Guerra Cívil, na Patuleia, nas Incursões Monarquicas de 11/12, no 28 de Maio.
Falo no estruturalismo como a base das ideias nos anos 60, e que veio a originar as teorias póscolonialistas e a sua crítica aos modelos imperiais colonialistas. A abordagem histórica "portuguesista" contrapõem as ideias anteriores. A ideia histórica universalista e a missão civilizadora baseadas nas conquistas, é explorada pelo Estado Novo para justificar a permanencia em Àfrica. Este foi o paradigma de Portugal desde tempos antigos até 74', e que ainda não foi substituido (Magalhães Godinho, Eduardo Lourenço debruçam-se sobre esta temática).
Não reconheco que seja necessário participar num conflito para escrever sobre ele com mais ou menos autoridade. A verdade histórica será escrito por outros, mais isentos e afastados desse tempo. E é nessa perspectiva que procuro ouvir todas as partes.
Ao ler a sua opinião, não deixei de reparar na tenaz e indiscriminada crítica feita ao livro e ao seu autor. Parece que os textos vieram mexer com as consciências. Um ataque tão feroz não deixa de parecer uma "cortina de fumo" e uma ridícula tentativa de virar a história ao sabor dos ventos da "modernidade", em que impera a noção de construção e desenvolvimento dos interesses pessoais em contraponto à construção do país como um todo e para todos. Esta estreiteza de vistas em nada contribui para o bem colectivo. Um país moderno deve estar virado para o futuro mas sempre com os olhos no passado, de onde podemos colher ensinamentos pois a memória colectiva de um povo está sempre assente nas glórias e misérias desse mesmo passado.
ResponderEliminarAs nossas campanhas, tanto em África como por todo o império (1415 a 1975), estão cheias de glória e miséria, mas não deixam de ser "nossas" e como tal produto da vontade colectiva do povo português. Há que ler e ouvir a todos sem excepção com uma atitude de sabedoria em vez da crítica gratuita.
"Os nossos igrejos avós" merecem.
Pegando somente nas suas palavras finais, quando se refere às nossas campanhas de 460 anos pelo Império como “produto da vontade colectiva do povo português”, é precisamente porque a “vontade colectiva do povo português em 1974” foi a de abandonar a política de defesa do Ultramar que considero o livro “Em Nome da Pátria” que comento neste “poste” um ror de disparates.
ResponderEliminarNão sei se leu o livro que aqui defende criticando a crítica, mas, por exemplo, essa “vontade colectiva” expressou-se de imediato na forma como as unidades militares portuguesas presentes nos três TOs cessaram as suas operações activas quase em uníssono, facto que o excelentíssimo Tenente-Coronel Brandão Ferreira procura nem ter em conta…
Concordando completamente consigo na sua frase final, o que os nossos avós merecem é que os seus netos se mostrem dignos deles, alfabetizados, aproveitando as oportunidades que a maioria dos nossos antepassados não tiveram.
Mas é algo em que o Travolta tem que se aplicar melhor pois qualificá-los de “igrejos” como o fez no fim do seu comentário, certamente os desgostará… O adjectivo que pretendia usar, se for o mesmo constante da letra de Henrique Lopes de Mendonça em “A Portuguesa” é egrégios: distintos, nobres, ilustres, insignes.
Qualificativo que, como compreenderá, não se pode atribuir ao seu comentário…
Apesar de ainda não ter tido a oportunidade de ler o Livro do Autor Sr. TCOR Brandão Ferreira, presumo que os acérrimos criticos do seu ponto de vista, apelidando-o de fascista, em oposição devem considerar o Sr. ALM Rosa Coutinho, como um verdadeiro herói da Patria, que durante o processo de descolonização incentivou à outra parte o assassinio de Portugueses, não os da metrópole, claro. Ou será que os Portugueses oriundos das ex-colónias eram menos
ResponderEliminarPortugueses, e por isso foram rotulados de exploradores dos negros, os vulgo retornados?
J.Martins
Creia-me, Jorge B. Martins, que vem sempre a tempo de deixar a sua útil "presunção" do que os "críticos" pensariam, apesar de, três anos passados depois da sua publicação, "ainda não ter tido oportunidade de ler o livro".
ResponderEliminarQue se pode dizer? Que não presuma: leia. Junte alguns momentos como os que dispensou a escrever este comentário inútil e faça-se útil: leia o livro.