O vídeo acima, infelizmente truncado, contém a metade inicial de uma canção intitulada A Lenda de El-Rei D. Sebastião do Quarteto 1111 que data da segunda metade da década de 60, muito anos antes destes vídeos assim mais ousados se chamarem telediscos ou, muito menos, videoclips… Mesmo truncado, preserva aquilo que é o seu aspecto mais marcante, o efeito inicial que é criado pelo som dos instrumentos antigos usados no começo da melodia. O ambiente transporta-nos de imediato para uma época histórica longínqua e só então o vocalista (José Cid) começa a cantar. A versão integral da canção pode ouvir-se aqui.
Significativamente, atendendo precisamente à época, a letra original – que começava por Fugiu de Alcácer Quibir, El-Rei D. Sebastião… – foi alterada devido à censura – para um neutro Depois de Alcácer Quibir… – que aquilo eram tempos de monarcas que não tinham defeitos, em que não ficaria nada bem dizer-se que o Desejado tivesse fugido da peleja. Porém, os antecedentes históricos já haviam mostrado que, contra infiéis, a participação de monarcas em grandes batalhas convencionais era um daqueles desportos radicais que lhes podia correr mal, como já acontecera com Luís II da Hungria, em Mohács em 1526, contra os otomanos…
Apesar da distância geográfica e temporal de 52 anos que separaram estas duas batalhas travadas por duas potências da cristandade contra o Islão, existem vários elementos de semelhança nos dois acontecimentos e nas suas consequências que vale a pena recordar. Sebastião I de Portugal tinha por ocasião da batalha de Alcácer Quibir 24 anos e Luís II da Hungria 20 anos em Mohács. Ambos morreram em consequência delas. Nenhum dos monarcas possuía descendentes legítimos à data da morte. Por causa disso, os seus reinos vieram a ser absorvidos pela expansão centrípeta pan-europeia representada pela habilidade matrimonial dos Habsburgos…
Apesar da distância geográfica e temporal de 52 anos que separaram estas duas batalhas travadas por duas potências da cristandade contra o Islão, existem vários elementos de semelhança nos dois acontecimentos e nas suas consequências que vale a pena recordar. Sebastião I de Portugal tinha por ocasião da batalha de Alcácer Quibir 24 anos e Luís II da Hungria 20 anos em Mohács. Ambos morreram em consequência delas. Nenhum dos monarcas possuía descendentes legítimos à data da morte. Por causa disso, os seus reinos vieram a ser absorvidos pela expansão centrípeta pan-europeia representada pela habilidade matrimonial dos Habsburgos…
Havia no entanto uma diferença de vulto: D. Sebastião ia para África (em Agosto!) em busca de sonhos de glória; Luís II defendia o seu reino da avalanche turca.
ResponderEliminarEu só me encarreguei de nomear as semelhanças e os ensinamentos que em Portugal se deveriam extrair com a situação política criada na Hungria depois de Mohács, 52 anos antes, João Pedro
ResponderEliminarAgora, quanto à análise táctica da campanha, confesso-lhe que, por muitas responsabilidades que se atribuam - e eu também atribuo - a Sebastião I e aos seus próximos, ainda estou para conhecer um "Kriegspiel" que analise de uma forma que eu considere satisfatória aquela campanha.
Por exemplo, a reconstituição de Alcácer Quibir feita por Manoel de Oliveira, que admito que seja a que mais meios dispôs, é para mim um verdadeiro fiasco: as hostes portugueses já conhecem tão bem o desfecho da batalha que nem se vê o entusiasmo da arenga...