26 junho 2009

OS REMANESCENTES DO CANADÁ FRANCÊS

Entre as várias possessões que a França continua a ter espalhadas pelo Mundo, sobreviventes do frenesim descolonizador da segunda metade do Século XX que já terá passado de moda, conta-se um pequeno arquipélago na América do Norte, situado ao largo da Terra Nova, denominado Saint Pierre e Miquelon (abaixo).
O arquipélago tem uma área total de 242 km², e é formado primordialmente por três grandes ilhas, Saint Pierre (26 km²), Miquelon (115 km²) e Langlade (91 km²), com a curiosidade destas duas últimas estarem ligadas desde o Século XVIII por um cordão arenoso denominado La Dune. A população há muito que estabilizou em volta dos 6.000 habitantes (*).
O descobridor das ilhas foi o português José Alvares Fagundes, que as baptizou em 21 de Outubro de 1520, com uma religiosidade excessiva e uma certa falta de imaginação, de Ilhas das Onze Mil Virgens, não porque julgasse que as lá houvesse (as ilhas eram originalmente desabitadas) mas porque era a festa religiosa que se celebrava nesse dia.
Mais tarde, em 1536, o navegador francês Jacques Cartier tê-las-á rebaptizado e reivindicado a sua posse para a França, mas foi só em 1604 que se criou a primeira povoação permanente. O clima não ajuda. Apesar dos portos não gelarem no Inverno é corrente atingirem-se temperaturas da ordem dos 15 a 20º C negativos.
A população é de origem europeia, uma mistura de ancestrais das regiões da Normandia, da Bretanha e do País Basco, uma ascendência que é reconhecida na bandeira local (abaixo). E, para quase todos os outros efeitos que não os políticos, as ilhas fazem parte do Canadá, cujas costas (as da Terranova) estão situadas a uns escassos 25 km.
Quando do reconhecimento da conquista do enorme Canadá francês pelos britânicos em 1763 (Tratado de Paris), as ilhas regressaram paradoxalmente à posse da França, que as havia cedido anteriormente ao Reino Unido em 1713, com o Tratado de Utrecht. Perdidas as ambições continentais, as ilhas tornaram-se o entreposto da França na região da pesca do bacalhau.
A importância das ilhas permanece sendo fundamentalmente essa. Na Guerra das Pescas, tem havido vários diferendos – o último foi resolvido em 1992 – entre o Canadá e a França quanto aos direitos de pesca naquelas águas que o primeiro quer naturalmente hegemonizar e que a segunda contesta invocando os direitos das águas territoriais das suas ilhas.

(*) Em 1887 tinha 5.900 habitantes, em 1999 eram 6.300. Actualmente são 6.100.

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