30 junho 2009

A COMPOSIÇÃO DA PANELA DE MISTURA NORTE-AMERICANA

A simples expressão panela de mistura, em português, não terá grande impacto para quem a ouvir, sem lhe prestar maior atenção, mas a sua tradução para inglês (melting pot) tem-no, para quem já a ouviu. Trata-se de um ícone da formação dos Estados Unidos, que estabelece que terá sido a contribuição plural (isto até parece um slogan do Louçã!...) das várias componentes étnicas da imigração e dos povos originais da América do Norte que se se fundiram para criar a cultura norte-americana.
Assim tão clara e idilicamente definida na teoria, só muito raramente se encontram estudos ou estimativas quantitativas de qual seria a proporção das contribuições de cada uma das etnias para o resultado final da população norte-americana actual. É o caso (raro) do gráfico acima, cujo original pertence ao Statiscal Abstract of the United States, publicado no ano do censo de 1980, e onde aparecem dados que, se analisados seriamente do ponto de vista demográfico, não podem fazer qualquer sentido (1).
Como é cada vez mais frequente que um norte-americano tenha ascendentes de várias proveniências e como os resultados da classificação resultaram de questionários, onde os interrogados indicaram a sua ascendência, a distribuição tendeu a inflacionar as etnias com mais valia social (britânica ou irlandesa ou alemã) em detrimento das que são subvalorizados (a africana, a índia nativa ou a mexicana). Não fosse ela a dizê-lo, por exemplo, e ninguém adivinharia que Kim Bassinger (acima) tinha uma avó Cherokee
Mas foi aquele censo de 1980 nos Estados Unidos o primeiro a destapar a tampa de uma outra panela, ao inserir pela primeira vez a questão de saber se o inquirido era ou possuía ascendência hispânica ou latina. O resultado, ao atingir os 6,5% da população, foi uma surpresa. Afinal, os casos de estrelas de cinema que preferiram anglicizar os seus nomes como Rita Hayworth (acima, chamava-se Margarita Cansino) ou como Martin Sheen (o seu verdadeiro nome é Ramón Estévez) eram apenas a ponta visível de um enorme iceberg.
Progressivamente, a partir daquele primeiro recenseamento de 1980, os norte-americanos de ascendência hispânica, que até têm ascendências diversas, sendo as mais numerosas a mexicana, a porto-riquenha e a cubana, começaram a assumir essa sua condição, e actualmente, graças a isso, ao crescimento demográfico maior que a média e à imigração constituem já cerca de 15% da população dos Estados Unidos (45 milhões). A tal panela de mistura, pelo menos no que diz respeito ao idioma e à cultura já não é única…
A seguir a escrever Choque de Civilizações (1996) sobre a ordem mundial, Samuel P. Huntington voltou-se para o seu próprio país e escreveu Quem Somos Nós? (2004), precisamente a respeito do impacto do peso crescente dos hispânicos na evolução da identidade nacional norte-americana. Apesar do subtítulo O Grande Debate da América as questões que o livro levanta parecem ser por demais incómodas para fazer dele o sucesso editorial que foi o seu antecessor. Já se passaram cinco anos e ainda não houve Grande Debate
… a não ser que se chame isso à publicidade ao facto de que Obama ter nomeado a primeira hispânica para o cargo de Juíza do Supremo Tribunal de Justiça. Nesse mundo de espectáculo e de faz-de-conta parece que tudo continua como dantes, como podemos ver numa série como CSI Miami, uma cidade que continha já em 2000 uma ampla maioria (⅔ ) de população de origem hispânica, mas onde o tenente Horatio Caine (David Caruso) consegue viver todas as suas aventuras, arranhando muito de quando em vez o idioma castelhano(2)

(1) Como a conclusão, que se pode extrair daquele gráfico, que em 1980 haveria nos Estados Unidos 40 milhões de pessoas de ascendência predominantemente irlandesa contra apenas 8 milhões de ascendência predominantemente mexicana.
(2) É irónico que a banda sonora de introdução da série seja uma composição dos The Who intitulada Won´t Get Fooled Again (Não serei novamente enganado). No aspecto sociológico da Miami que ali é retratada, pelo que ficou descrito acima, o espectador é repetidamente enganado a cada episódio que passa.

2 comentários:

  1. HERDEIRO, GOSTEI MUITO DO POST...INTERESSANTES AS INFORMAÇÕES SOBRE RITA E MARTIN..hehehe...AQUI NO BRASIL, CHAMAMOS AO MELTING POT "CADINHO DE RAÇAS"...grande abraço, minha sempre admiração...cácumDEUS!

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  2. Desejo, muito sinceramente, que o Menino não se torne assim tão eterno para que cresça, aprenda todo o alfabeto e deixe de escrever os seus comentários em LETRA DESENHADA MAÍUSCULA.

    Nessa altura já o menino, sendo mais crescido, terá aprendido que o emprego desnecessário desse tipo de LETRA é interpretado como o equivalente escrito a falar desnecessariamente alto.

    Votos de muitas felicidades para o Menino...

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