18 junho 2009

OS ANTECEDENTES DE MOUSAVI E O GENERAL «COCA-COLA»

Esta situação que se gerou no Irão depois da divulgação do resultado das eleições presidenciais, a derrota do candidato Hussein Mousavi frente ao candidato do regime, as suspeitas sobre a forma como se procedeu ao apuramento dos resultados, os protestos dos apoiantes de Mousavi e as consequentes reacções do regime contra a contestação podem servir de pretexto à evocação de uns outros acontecimentos algo semelhantes de há 51 anos: as eleições presidenciais portuguesas de 8 de Junho de 1958.
Segundo os resultados oficiais, o General Humberto Delgado perdera aquelas eleições com 23,45% dos votos enquanto Hussein Mousavi perdeu agora as iranianas com 33,75%. Qualquer daqueles dois candidatos se situa e situava nas franjas discordantes (mas de uma discordância tolerada...) ao regime sob o qual concorreram às eleições. E terá sido apenas por isso que foram admitidos a escrutínio. Constatar criticamente o envolvimento anterior de qualquer um deles com o regime a que depois se opuseram é um truísmo.
Vale a pena recordar, a propósito, alguns episódios menos heróicos da campanha de Humberto Delgado. Como o comportamento do PCP, que começou por lançar a candidatura de Arlindo Vicente e inicialmente o antagonizava, considerando-o fundamentadamente um homem dos americanos e alcunhando-o de General Coca-Cola. Ou como, para além do famoso soundbite Obviamente, demito-o, existem muitas outras declarações públicas de Delgado naquela época que são de um cariz completamente antidemocrático.
Nos dois casos, a dinâmica das frentes que se formam conjunturalmente por causa das eleições ultrapassou em muito a personalidade do candidato que serviu de pretexto para o seu aparecimento. Questionar a pureza das ideias de Mousavi nestas circunstâncias é um absurdo. Em 1958 viu-se até comunistas a apoiar um caudilho em potencial… E, como aconteceu com Delgado, alguém achará que, se Mousavi possuísse uns impecáveis pergaminhos democráticos, teria tido alguma oportunidade de concorrer às eleições presidenciais iranianas?

2 comentários:

  1. Esforço entrópico de um regime para a sua manutenção. Ou como diria Lampedusa: " É preciso uma revolução...para que tudo fique na mesma ". Eu diria que é preciso mártires e máscaras de esperança e liberdade para o povo dançar ao som do folclore. Delgado torna-se símbolo da oposição a um regime onde foi fabricado e que ajudou a construír.

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  2. Também me lembrei de Delgado...e de Henrique Galvão, que com o futuro "general sem medo" rechaçou a revolta de Lisboa de 1927.

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