Esta situação que se gerou no Irão depois da divulgação do resultado das eleições presidenciais, a derrota do candidato Hussein Mousavi frente ao candidato do regime, as suspeitas sobre a forma como se procedeu ao apuramento dos resultados, os protestos dos apoiantes de Mousavi e as consequentes reacções do regime contra a contestação podem servir de pretexto à evocação de uns outros acontecimentos algo semelhantes de há 51 anos: as eleições presidenciais portuguesas de 8 de Junho de 1958.
Segundo os resultados oficiais, o General Humberto Delgado perdera aquelas eleições com 23,45% dos votos enquanto Hussein Mousavi perdeu agora as iranianas com 33,75%. Qualquer daqueles dois candidatos se situa e situava nas franjas discordantes (mas de uma discordância tolerada...) ao regime sob o qual concorreram às eleições. E terá sido apenas por isso que foram admitidos a escrutínio. Constatar criticamente o envolvimento anterior de qualquer um deles com o regime a que depois se opuseram é um truísmo.
Vale a pena recordar, a propósito, alguns episódios menos heróicos da campanha de Humberto Delgado. Como o comportamento do PCP, que começou por lançar a candidatura de Arlindo Vicente e inicialmente o antagonizava, considerando-o fundamentadamente um homem dos americanos e alcunhando-o de General Coca-Cola. Ou como, para além do famoso soundbite Obviamente, demito-o, existem muitas outras declarações públicas de Delgado naquela época que são de um cariz completamente antidemocrático.
Nos dois casos, a dinâmica das frentes que se formam conjunturalmente por causa das eleições ultrapassou em muito a personalidade do candidato que serviu de pretexto para o seu aparecimento. Questionar a pureza das ideias de Mousavi nestas circunstâncias é um absurdo. Em 1958 viu-se até comunistas a apoiar um caudilho em potencial… E, como aconteceu com Delgado, alguém achará que, se Mousavi possuísse uns impecáveis pergaminhos democráticos, teria tido alguma oportunidade de concorrer às eleições presidenciais iranianas?
Vale a pena recordar, a propósito, alguns episódios menos heróicos da campanha de Humberto Delgado. Como o comportamento do PCP, que começou por lançar a candidatura de Arlindo Vicente e inicialmente o antagonizava, considerando-o fundamentadamente um homem dos americanos e alcunhando-o de General Coca-Cola. Ou como, para além do famoso soundbite Obviamente, demito-o, existem muitas outras declarações públicas de Delgado naquela época que são de um cariz completamente antidemocrático.
Nos dois casos, a dinâmica das frentes que se formam conjunturalmente por causa das eleições ultrapassou em muito a personalidade do candidato que serviu de pretexto para o seu aparecimento. Questionar a pureza das ideias de Mousavi nestas circunstâncias é um absurdo. Em 1958 viu-se até comunistas a apoiar um caudilho em potencial… E, como aconteceu com Delgado, alguém achará que, se Mousavi possuísse uns impecáveis pergaminhos democráticos, teria tido alguma oportunidade de concorrer às eleições presidenciais iranianas?
Esforço entrópico de um regime para a sua manutenção. Ou como diria Lampedusa: " É preciso uma revolução...para que tudo fique na mesma ". Eu diria que é preciso mártires e máscaras de esperança e liberdade para o povo dançar ao som do folclore. Delgado torna-se símbolo da oposição a um regime onde foi fabricado e que ajudou a construír.
ResponderEliminarTambém me lembrei de Delgado...e de Henrique Galvão, que com o futuro "general sem medo" rechaçou a revolta de Lisboa de 1927.
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