16 junho 2009

O EXEMPLO

Ao escolher um título para o seu discurso de 10 de Junho António Barreto escolheu – e bem, na minha opinião – o Exemplo. Trata-se de um discurso meritório e muito elogiado, com uma incidência particular no valor do exemplo dado pelas elites como força motivadora para toda a sociedade. Foi precisamente nesse discurso que pensei, seis dias depois de ter sido proferido, ao fazer uma leitura rápida da imprensa diária de hoje e ao associar duas notícias nela contidas.

A primeira notícia (Público) informa-nos que 48 horas depois da evasão de cinco presos do Hospital Prisional de Caxias, o Director-Geral dos Serviços Prisionais decidiu alterar a Direcção e a Chefia de Guardas daquele Estabelecimento Prisional. Apesar dos prisioneiros evadidos terem entretanto sido todos recapturados e apesar do inquérito aos acontecimentos ainda dever estar numa fase embrionária a decisão foi tomada e publicitada. Eis um excelente exemplo de responsabilização…

A outra notícia (Diário de Notícias) refere-se à audição de ontem do Governador do Banco de Portugal pela a Comissão de Inquérito parlamentar que investiga o caso do BPN. Neste último caso, à sua maneira, também se pode dizer que terá havido uma evasão de um grupo de banqueiros ao cumprimento das regras da boa administração bancária. Quem os devia vigiar não deu por nada. Há as culpas distintas dos evadidos e dos guardas. Só que, apesar dos banqueiros também terem sido recapturados, a analogia acaba aí…

E é pena. De facto, parece que não existe nenhuma autoridade superior que possa alterar a Direcção do Banco de Portugal em 48 horas, mas também já se terá passado tempo suficiente para que pessoas de uma craveira intelectual superior à de Director ou Chefe de Guardas de uma prisão cheguem à conclusão do que seria meritório e expectável que fizessem. Sob pena de, como parece estar a acontecer, haver uma degradação tanto pessoal quanto institucional da instituição que o envolvido dirige...

Regressando aos conceitos do discurso de António Barreto, o pior é que o efeito mediático do mau exemplo dado por esta conduta autista do Governador do Banco de Portugal é tão superior ao caso da Directora de Caxias que acaba por anular o bom exemplo do segundo caso. Por acaso, o Dr. Vítor Constâncio não terá ouvido o discurso de 10 de Junho de António Barreto, pois não? E se ouviu, por acaso discordou, não é verdade? Mas, se acaso tiver concordado, qual terá sido a parte em que achou que aquilo que ali foi dito não se aplicava a si?...

5 comentários:

  1. O Director-Geral dos Serviços Prisionais apenas tratou de pôr as barbas de molho, por isso agiu rapidamente..
    Se a Directora do Estabelecimento Prisional tivesse sido mais lesta, demitindo o Chefe dos Guardas de imediato, certamente não seria demitida.

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  2. Talvez seja como diz.

    Mas houve no processo uma ruptura com o tradicional método luso de responsabilização: ninguém tem culpa que é sempre chato demitir pessoas.

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  3. O que é isso de "aguçadinho"?

    Queres ver que eu também tenho alguém que me deixa aqui comentários insultuosos?...

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  4. Ainda hoje comentei que neste momento já tenho um doutoramento cum laude (acho que se diz assim...) em paciência... Mesmo assim, quando leio este tipo de notícias, sinto que preciso de uma pós graduação ;) Parece que agora há pós doutoramento...

    Isto tudo a propósito da vergonha nacional que é tudo o que diz respeito ao BPN, BPP, Freeport (há, ao que parece, conexões) e, no meio disso tudo, "fiscalização" do banco de Portugal...

    O discurso de António Barreto surgiu como uma lufada de ar fresco este ano, não só pela forma, como pela pertinência, como pelo conteúdo. Um discurso inteligente e excelente como há muito tempo não se ouvia.

    E depois, essa tristeza... Já para não falar no discurso do presidente... Nem vou comentar... Também não vem ao caso...

    Beijinhos :)

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