22 janeiro 2009

A OUTRA TERRA PROMETIDA – A REGIÃO AUTÓNOMA JUDIA

A Região Autónoma Judia, situada na região ao redor da cidade de Birobidjan, no Extremo Oriente russo (ver mapa abaixo), foi uma unidade política da União Soviética criada em 1934 para vir a albergar uma parte da população judia da União que ali se quisesse instalar. Essa Região, pertencente à República Socialista Federativa Soviética Russa fora destinada a conferir um espaço territorial próprio (com uma área de cerca de 36.000 km²) a uma das nacionalidades soviéticas (os judeus) que se caracterizava precisamente por viver disseminada entre todas as outras.
O sionismo – a difusão do ideal que incentivava a migração dos judeus para a Palestina – era então evidentemente proibido na União Soviética. E a Região Autónoma Judia foi a resposta do socialismo soviético ao sionismo trabalhista, a facção mais esquerdista do sionismo, que hoje é frequentemente esquecido mas que já foi muito enaltecido, especialmente através das sociedades igualitárias que se formaram para desenvolver as colónias agrícolas na Palestina – conhecidas por kibbutz ou moshav – embora hoje, haja menos de 5% da população israelita a viverem em colónias desse tipo.
Essa espécie de terra prometida para os judeus soviéticos era também um território de aquisição recente, cuja posse os soviéticos procuravam ainda consolidar. Num território que fazia fronteira com a China, Birobidjan, a capital, fora fundada apenas em 1915 e fora inicialmente a povoação que ficava à volta de mais uma estação do caminho-de-ferro transiberiano que liga Moscovo a Vladivostok. Desejava-se que a motivação nacional judaica fosse um factor a contribuir para o povoamento de um território onde a densidade populacional mal chegava a atingir os 2 habitantes por km².
Nas aparências, o idioma oficial da Província era o iídiche(*) escrito com o alfabeto hebreu (à direita), mas os resultados da imigração judaica, apesar das inúmeras campanhas lançadas para o efeito, foram um desapontamento. Em 1939 nas vésperas da Segunda Guerra Mundial e quando a situação estava muito tensa entres os soviéticos e os japoneses (que então ocupavam a China), os judeus eram 17.700, ou seja apenas 16% dos 109.000 habitantes. Em 1959, já depois da fundação de Israel (1948), enquanto a população total aumentara para 163.000, a judaica diminuíra para 14.300 (9%)…
Na actualidade, tendo-se mantido a designação de Região Autónoma Judia mesmo depois da desagregação da União Soviética, o seu uso é uma ironia, quando se sabe que os judeus eram apenas 2.400 ou seja 1,2% da população total (191.000) no último censo ali realizado (2002). Entretanto, como foi restabelecida a liberdade religiosa, verifica-se que a esmagadora maioria da população local pratica o cristianismo ortodoxo… Não estando directamente associada à questão israelo-palestiniana de que tanto se fala, vale a pena lembrar esta terra prometida a que os judeus não se agarraram

(*) Idioma germânico normalmente usado pelos judeus da Europa Central e Oriental. Os da Europa Meridional costumavam usar o ladino. Os fundadores de Israel preferiram que o idioma oficial do novo Estado fosse o hebraico, que era a língua religiosa de todas as comunidades.

2 comentários:

  1. Curioso...Sabia de outras regiões cogitadas para servir de pouso aos judeus, como partes da américa Latina, pelo Paraguai, ou entre angola e a Namíbia. E é também curioso porque a URSS apoiou logo no início a criação do estado de Israel, precisamente porque o sionismo era na altura maioritariamente socializante, e havia a esperança de construírem um estado socialista naquele local. Apoio esse que decaiu nos anos 50 em troca de alianças com o Egipto.

    ResponderEliminar
  2. O apoio da URSS à criação do Estado de Israel - hoje convenientemente esquecido por quase todos, nomeadamente pelos comunistas - é uma inflexão final de Estaline num percurso sinuoso quanto à questão judaica e teve mais repercussões na vertente externa do que interna.

    Antecipadamente, convém esclarecer que o Estado Soviético considerava que não existia qualquer questão judaica para os judeus laicos: a direcção do próprio partido estava cheio deles. Fala-se muito de Trotski, mas mesmo depois dele, houve Kamenev e Zinoviev, e mesmo depois das purgas, houve Litvinov e Molotov, que também eram de origem judaica.

    Entre os outros judeus soviéticos e, por muito cínico que isto pareça, grande parte dos problemas de integração que se colocavam em 1934 à URSS com os cidadãos soviéticos de nacionalidade judia, foram "resolvidos" por Adolf Hitler entre 1941 e 1945 quando quase os extermínou...

    O cenário após-1945 que se depara a Estaline em relação à questão judaica mudou radicalmente. Os judeus sionistas possuíam um capital de vitimização que não hesitaram em usar internacionalmente e este projecto de Birobidjan que aqui apresentei revelara-se um fiasco. Assim, uma daquelas migrações "patrocinadas" pelo KGB cairia pessimamente mal no Mundo...

    Creio que o apoio que Estaline confere ao projecto sionista é táctico e não ideológico (por muita afinidade que exista, com excepção da China, Estaline e a URSS nunca apoiaram nada que não conseguissem controlar - veja-se o caso de Tito na Jugoslávia).

    Em 1948, o problema palestiniano estava nas mãos do Reino Unido, que era a potência colonial, e o apoio soviético foi para o lado que estava a causar mais problemas ao "status quo" - que eram os judeus com as suas campanhas de imigração para a Palestina...

    Apesar de, dentro da URSS, a promoção do sionismo e a emigração para a Palestina estarem praticamente interditos, terão sido os critérios de rivalidade externa que definiram o alinhamento dos soviéticos e o seu apoio a Israel.

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.