Hesitei bastante antes de me decidir se valeria a pena escrever sobre o documentário As Duas Faces da Guerra, sobre a que se travou na Guiné-Bissau e que passou na semana passada na RTP1. Não vale porque, objectivamente, aquilo que vi não é, nem provavelmente seria para ser, um documentário genuíno. Mas creio que, no meio das críticas que resolvi não fazer, vale a pena chamar a atenção para um detalhe, que é sintoma das distorções que o jornalismo, quando misturado com ideologia em excesso , introduz em documentos como este suposto documentário que teria pretensões a possuir algum valor histórico.
O detalhe que quero realçar está associado à escolha, entre a vintena de depoimentos de pessoas do lado português, de Mário Pádua (*), um alferes miliciano médico que, por razões ideológicas, desertou do Exército português e foi oferecer os seus préstimos à causa nacionalista anti-colonial, no caso, a do PAIGC. Não se pretende questionar o interesse do seu depoimento, nem será arriscado suspeitar que aquela sua atitude receba a simpatia e o respeito pessoal da jornalista responsável pelo documentário, Diana Andringa, naqueles tempos militante do MRPP, organização fortemente anti-colonialista (**).
Mais do que isso, terá havido inúmeras maneiras que os incorporados adoptaram para manifestar a sua relutância em relação à Guerra, desde a evasão ao recrutamento à deserção antes ou depois do embarque. Mas o que me interessa aqui questionar é a representatividade do gesto de Mário Pádua que o torne importante no conjunto, quando se toma em consideração que terá havido cerca de 100.000 soldados europeus que prestaram serviço na Guiné. Ou seja, destes, quantos desertaram, e dos que desertaram, quantos se ofereceram para trabalhar com o antigo inimigo? Terá havido duas dúzias (0,024%)?
Estas perguntas podem não passar de pormenores, mas são o tipo de pormenores que estabelecem uma distância infinita entre o que é o trabalho em jornalismo e o de produzir documentos com rigor histórico. É que o interesse jornalístico principal parece ser o de produzir documentos em que, como aconteceu com o percurso de Mário Pádua, foi o homem que mordeu o cão, enquanto que a História, como a da Guerra na Guiné-Bissau, costuma ser feita das sensaboronas histórias de cães que morderam os homens, homens esses a quem, na sua esmagadora maioria, nem lhes passou pela cabeça desertar…
(*) – Mário Pádua também aparece como depoente na série A Guerra, também apresentada pela RTP1.
(**) – Conhecida pelas suas pinturas murais imediatamente posteriores a 25 de Abril de 1974: Nem mais um soldado para as colónias.
Não conheço caso de desertor
ResponderEliminareuropeu que depois tenha oferecido
préstimos ao IN/PAIGC.Penso que o
Dr.Pádua desertou em Angola,não na
Guiné.
Também tenho a mesma informação sobre o percurso de Mário Pádua. Em Moçambique, houve o caso de Jacinto Veloso, piloto da Força Aérea que desertou para a Tanzânia de avião, aderindo à FRELIMO.
ResponderEliminarMas, ao referir a hipótese das tais "duas dúzias (0,024%)", estou a acautelar a existência de outros casos menos mediáticos que ambos desconheçamos.
De qualquer modo, a inserção de um caso quase isolado de um português a combater do lado dos nacionalistas justaposto à omissão dos milhares de casos de guineenses a combater do lado dos colonialistas parece-me que diz tudo o que há para dizer acerca do "equilíbrio" do documentário.
mais um grande traidor portugues na minha openiao deveria ser julgado e fui
ResponderEliminaro dr padua fujiu de angola o foi se entregar ao agostinho neto mas nao o aceitaram porque claro ele nao era de confiança ai foi para o senegal mas na minha openiao é traidor porque que queiram ou nao na época esses territorios eram portugueses e nunca deviriamos sair de lá e nao foi a salazar e nem politico nenhum que causou a perda desses territorios foi sempre e sempre será a politica portuguesa desde a monarquia até a primeira republica que nem se existiu essa tal de rapublica de 15 em 15 trucava tudo que miseria e fui porque nao mudaram a capital de portugal se ela foi mudada varias vezes
ResponderEliminarÓ caçador, tenta caçar um português mais correto para que a atenção não fuja do conteúdo para a forma.
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