Já aqui me devo ter referido, a propósito de cerimónias em que as conexões do homenageado com o Colégio Militar são forjadas para além do que seria razoável, quanto me incomoda, enquanto ex-aluno, que no Museu do Colégio Militar exista um estojo com as medalhas escolares que a determinada altura – presumo que ainda durante a década de 1930 ou então na seguinte – foram oferecidas a título honorífico ao Professor Doutor Oliveira Salazar, que era então o Presidente do Conselho.
Os ex-alunos que ainda se lembram dessas medalhas sabem que as havia de duas categorias: as de Aplicação Literária (do lado direito da fotografia abaixo) e as de Aptidão Militar e Física (à esquerda). O estojo oferecido ao Professor Salazar continha medalhas das duas categorias e se os méritos intelectuais do Presidente do Conselho eram sobejamente reconhecidos, já os outros, que seriam o resultado da educação física que recebera no seminário, e dos militares (serviço que Salazar não cumpriu…) era melhor não falar…
Além de ridículo, esta miscelânea da instituição colegial com o poder político da altura parece-me permanecer para sempre incomodativa. Note-se que não tenho a ingenuidade que ela não exista e não tenha sido sempre procurada. Não fosse a política de anonimato do meu blogue, e poderia inserir neste poste uma fotografia da cerimónia em que o Almirante Thomaz me está a atribuir precisamente uma das medalhas da fotografia acima. Mas, enfim, naquele regime, Thomaz era mais uma figura decorativa do que propriamente política…
Do actual Primeiro-Ministro José Sócrates é que já não se pode dizer que seja uma figura assim tão decorativa… Quando se pode assistir pela televisão (por cortesia da SIC) a uma cerimónia em que delegações de instituições militares de ensino, como o Colégio Militar (acima) ou o Instituto Militar dos Pupilos do Exército (abaixo) vão cantar as janeiras ao Primeiro-Ministro, o significado da cerimónia terá um significado político mais profundo do que o avô Thomaz quando distribuía prémios em todas as aberturas solenes (*)…
Ora, nunca me tendo mostrado neste blogue um acérrimo defensor das tradições colegiais, como ex-aluno confesso que, pela primeira vez, me sinto incomodado com a cena daquela delegação de uma instituição de que fiz parte vai já para uns trinta anos, estando ali aparentemente a fazer umas figuras tristes, cantando uma música com uma letra que vim a descobrir ser inenarrável(**), armado numa espécie de rancho folclórico de Amiais do Extremo, mas fardado, e sem cabaz nem presuntos ou artigos regionais para oferecer ao senhor primeiro-ministro…
Embora transportadas para longe das noticias, as relações entre os meios militares propriamente ditos e o poder político parecem continuar tensas, e esta ideia de mandar os putos em missões de boa vontade, com a devida cobertura televisiva, por muito cuidadosos que sejam os planos em que passa o Ministro da Defesa (acima, vejam-no focado de baixo para cima para lhe dar mais importância...), não pode fazer esquecer qual é a importância real da pessoa de Nuno Severiano Teixeira e do pelouro da Defesa nas prioridades de José Sócrates.
A melhor tradução visual disso é a fotografia acima, onde aparece José Sócrates a agradecer as janeiras e, semi-oculto, se vê Nuno Severiano Teixeira a sorrir e contemplá-lo, subservientemente… Por mim, mantendo o espírito da iniciativa destas janeiras militares e pensando no precedente de Salazar, suspeitando que nenhum dos dois tenha chegado a cumprir o serviço militar, sugeria que a actual Direcção do Colégio Militar também lhes atribuisse, ao Ministro e ao Primeiro-Ministro, um par de Medalhas de Aptidão Militar e Física…
(*) Academia Militar, Colégio Militar, Instituto Militar dos Pupilos do Exército, Instituto de Odivelas, etc. Thomaz não faltava a uma Abertura Solene. Lembre-se, a propósito, que o Comandante Supremo das Forças Armadas em Portugal - e um destinatário mais natural destas janeiras militares - é o Presidente da República Cavaco Silva...
(**)
Viva o nosso primeiro-ministro
Viva o nosso dirigente
Seja sempre iluminado
Pela estrela mais fulgente
Temos todo o desejo
Não o podemos negar
Cantar para o ano as janeiras
Outra vez neste lugar
(As últimas quatro fotografias, assim como a belíssima letra das janeiras, foram retiradas do artigo de hoje do Público de Eduardo Cintra Torres.)
Além de ridículo, esta miscelânea da instituição colegial com o poder político da altura parece-me permanecer para sempre incomodativa. Note-se que não tenho a ingenuidade que ela não exista e não tenha sido sempre procurada. Não fosse a política de anonimato do meu blogue, e poderia inserir neste poste uma fotografia da cerimónia em que o Almirante Thomaz me está a atribuir precisamente uma das medalhas da fotografia acima. Mas, enfim, naquele regime, Thomaz era mais uma figura decorativa do que propriamente política…
Do actual Primeiro-Ministro José Sócrates é que já não se pode dizer que seja uma figura assim tão decorativa… Quando se pode assistir pela televisão (por cortesia da SIC) a uma cerimónia em que delegações de instituições militares de ensino, como o Colégio Militar (acima) ou o Instituto Militar dos Pupilos do Exército (abaixo) vão cantar as janeiras ao Primeiro-Ministro, o significado da cerimónia terá um significado político mais profundo do que o avô Thomaz quando distribuía prémios em todas as aberturas solenes (*)…
Ora, nunca me tendo mostrado neste blogue um acérrimo defensor das tradições colegiais, como ex-aluno confesso que, pela primeira vez, me sinto incomodado com a cena daquela delegação de uma instituição de que fiz parte vai já para uns trinta anos, estando ali aparentemente a fazer umas figuras tristes, cantando uma música com uma letra que vim a descobrir ser inenarrável(**), armado numa espécie de rancho folclórico de Amiais do Extremo, mas fardado, e sem cabaz nem presuntos ou artigos regionais para oferecer ao senhor primeiro-ministro…
Embora transportadas para longe das noticias, as relações entre os meios militares propriamente ditos e o poder político parecem continuar tensas, e esta ideia de mandar os putos em missões de boa vontade, com a devida cobertura televisiva, por muito cuidadosos que sejam os planos em que passa o Ministro da Defesa (acima, vejam-no focado de baixo para cima para lhe dar mais importância...), não pode fazer esquecer qual é a importância real da pessoa de Nuno Severiano Teixeira e do pelouro da Defesa nas prioridades de José Sócrates.
A melhor tradução visual disso é a fotografia acima, onde aparece José Sócrates a agradecer as janeiras e, semi-oculto, se vê Nuno Severiano Teixeira a sorrir e contemplá-lo, subservientemente… Por mim, mantendo o espírito da iniciativa destas janeiras militares e pensando no precedente de Salazar, suspeitando que nenhum dos dois tenha chegado a cumprir o serviço militar, sugeria que a actual Direcção do Colégio Militar também lhes atribuisse, ao Ministro e ao Primeiro-Ministro, um par de Medalhas de Aptidão Militar e Física…
(*) Academia Militar, Colégio Militar, Instituto Militar dos Pupilos do Exército, Instituto de Odivelas, etc. Thomaz não faltava a uma Abertura Solene. Lembre-se, a propósito, que o Comandante Supremo das Forças Armadas em Portugal - e um destinatário mais natural destas janeiras militares - é o Presidente da República Cavaco Silva...
(**)
Viva o nosso primeiro-ministro
Viva o nosso dirigente
Seja sempre iluminado
Pela estrela mais fulgente
Temos todo o desejo
Não o podemos negar
Cantar para o ano as janeiras
Outra vez neste lugar
(As últimas quatro fotografias, assim como a belíssima letra das janeiras, foram retiradas do artigo de hoje do Público de Eduardo Cintra Torres.)
... suspeitando que nenhum dos dois tenha chegado a cumprir o serviço militar...
ResponderEliminarJá vi que não reparou que o nosso primeiro chamou de General ao Severiano e depois riram muito os dois, enquanto o verdadeiro General,que estava ao lado, ficou perplexo sem perceber se tinha sido "promovido" a ministro.
Estas quadras são bacocas,como foi
ResponderEliminarpossível pôr os"putos"da Luz,uma
instituição de excelência,segundo
sei,a "cantar"tais loas?Se foi
encomenda do Min.Severiano para
mostrar aos militares "seniores"e
reverenciar o PM,deu um tiro de
Mauser no pé.
Abraço
Lindo! Do melhor! Já me falta ver muito pouco. Parece um trecho dos tesourinhos deprimentes.
ResponderEliminarE a letra...Um must.
Caro António
ResponderEliminarA utilização destes jovens alunos é inqualificável. A letra das janeiras que cantaram está ao melhor nível dos elogios ao "grande timoneiro" ou ao "líder providencial". Simplestemente chocante !
Tive sorte: não vi! Posso acrescentar que teria mudado de canal se tais imagens me entrassem em casa. É triste os "putos" não terem Defesa...
ResponderEliminarEnfim, não há muito a acrescentar à cena, a não ser parodiá-la, como fiz no poste seguinte e lembrar, como muito bem fez o JRD, os generais que "produziram" e se associaram à cerimónia e que bem podem "limpar as mãos à parede"...
ResponderEliminarPara eles está prometida uma Grã-Cruz da Ordem de Aviz que costuma ser "a tabela" para chefes militares complacentes...
A propósito da ida dos alunos do Colégio Militar a S.Bento, e no seguimento da polémica que se instalou, falei com o ex-aluno nº 365/61.
ResponderEliminarA 6 de Janeiro, no dia em que os alunos cantaram as janeiras a José Sócrates, a RTP "mostrou imagens de um coro de alunos do Colégio Militar e dos Pupilos do Exercito, todos juntos e com guitarras, a tocar e a cantar uma música de Natal para o Primeiro-Ministro, no jardim à porta do palácio de S. Bento."
Indignado com o que viu, o 365/61 diz que "Sobressai, logo no início da intervençao, a ‘gafe’ de Sócrates chamando General ao Ministro, agradecendo e fazendo votos de querer voltar a vê-los no próximo ano e no mesmo local. Afirmação que, mais do que partidária, é de um baixo cariz eleitoralista!"
Perguntei como viu aquela situação: "Na altura, não gostei mesmo nada. Para mim, tratou-se de uma iniciativa nada de acordo com os cânones que sempre regeram estas duas importantes e vetustas Instituições de base Educativa, mas principalmente conduzidas por códigos de Honra e de Carácter, em base Militar" [...] "Instituições de elite que tantos Ilustres Portugueses já formaram. Deixando marcas para sempre a todos os que por lá passaram e que hoje se assumem como os Ex-Alunos."
Alinhando pelo diapasão dos restantes ex-alunos: "para qualquer ‘Menino da Luz’, é mesmo muito triste, ficamos verdadeiramente estupefactos e produz uma forte revolta interior, vermos que levem alunos do CM e do PE a prestar-se a cenas tão indiciadoras de posturas de uma subserviência e de uma bajulação que nunca aceitamos de forma nenhuma."
E concluindo em jeito desiludido: "Mas, é assim. Ao que chega a utilização partidária e egocentrismo destes senhores. Tudo serve para ser utilizado a seu bel-prazer sem olhar a meios nem a consequências, desde que sirva os seus interesses."
pode ser lido em Mudar Portugal?
Deixa lá, eventualmente estas janeiras a Sócrates devem-se ao facto do seu irmão ter sido aluno do Colégio Militar durante 6 anos, na década de 70...
ResponderEliminarGanda Miguel!
ResponderEliminarSó uma fonte como tu é que conseguia estabelecer essa ligação...
Já fui controlar e, de facto, há um caso em que o encadeamento dos apelidos coincide rigorosamente.
Não é só coincidência, é mesmo o único irmão do nosso Primeiro e lembro-me bem dele.
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