06 dezembro 2008

UMA HISTÓRIA DA CIA E AS EXPERIÊNCIAS COM PULGAS

Há uma piada já antiga que narra as investigações de um cientista que estudava o comportamento das pulgas, depois de as ter domesticado. Numa das suas experiências, o cientista começava por colocar a pulga no microscópio e ordenava: - Salta pulga! E a pulga lá saltava… Depois o cientista pegava na pulga, tirava-lhe as patas e voltava a dar a mesma instrução: - Salta pulga! E a pulga permanecia quieta… O cientista apressou-se a concluir no seu caderno de observações: Quando se retiram as patas a uma pulga ela perde o sentido da audição. Os seus aparelhos de audição devem situar-se nas patas…
O cientista serão os Estados Unidos e a piada é uma boa metáfora do comportamento da CIA e dos serviços de informações norte-americanos no estrangeiro depois da Segunda Guerra Mundial, tal qual é descrito no livro de Tim Weiner, apresentado abaixo: História da CIA, Um Legado de Cinzas da Difel. Há nele algo de exagerado quanto aos fiascos da CIA mas creio que Weiner acerta no essencial: na sua relação com os outros países, a CIA quase sempre confundiu a observação das pulgas com a experimentação com pulgas, e sempre se mostrou muito fraca com as conclusões que podia extrair do que havia feito às pulgas
Apesar de ter ganho o National Book Award de 2007, não antecipo que o livro se venha a tornar alguma referência futura sobre o assunto. Tecnicamente, extrai-se dele uma conclusão que era há muito reconhecida pelos profissionais do meio, tanto dos países aliados como dos inimigos dos Estados Unidos: a que a CIA sempre foi uma consumidora disparatada de recursos para o tipo de resultados que sempre apresentou. Politicamente, até pelas referências elogiosas das críticas da contracapa*, percebe-se que se trata de uma desforra das correntes liberais sobre a comunidade fechada dos serviços de informações.

* Do New York Times, Chicago Tribune, Washington Post, Wall Street Journal, Los Angeles Times e Boston Globe.

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