Sintetizando o argumento, trata-se da história de uma intelectual de esquerda (Kelly McGillis) que depois de ter sido convocada para uma daquelas audiências típicas do McCarthyismo, onde os convocados eram intimados a nomear uma lista de nomes para continuar a alimentar a actividade do Comité, vê a sua vida profissional completamente desfeita, por se ter recusado à fazê-lo. Reduzida a um emprego de dama de companhia de uma senhora idosa (Jessica Tandy), vem a descobrir que, ainda por cima, está a ser vigiada por uma parelha de agentes do FBI, onde um deles é convencional (mau), mas o outro é novo, ingénuo e bom (Jeff Daniels).
Afinal o promotor da rede é o próprio Senador e os imigrantes ilegais são antigos nazis. Seguindo o seu raciocínio, enquanto por um lado perseguia aqueles que considerava os vermelhos por intermédio do Comité do Senado, por outro, perante a nova lógica da Guerra-Fria que se desenhara, o Senador pretendia aproveitar os préstimos daqueles antigos inimigos dos seus novos inimigos. E é enquanto ele tentava explicar isto a McGillis numa conversa de uma afabilidade apenas aparente a uma mesa de restaurante que decorre a cena que marca todo o filme e que acaba por justificar todo este extenso poste.
Procurando dar uma imagem mais viva à expansão do comunismo pelo Mundo que estava a descrever a McGillis, Patinkin pega numa daquelas garrafas típicas de ketchup da Heinz e, abrindo-a, começa a despejá-la a ritmo compassado em cima da toalha da mesa do restaurante: flof, flof, flof… A cada sacudidela, era mais um país que caía nas garras do comunismo… É verdade que as figuras de época sobre aquele mesmo tema estão repletas de imagens – com manchas vermelhas que alastram, polvos vermelhos que estendem os seus tentáculos, etc. – que transmitem uma ideia semelhante…
Mas nenhuma delas se equipara, em espírito norte-americano de interpretação do resto do Mundo, ao simbolismo da explicação estratégica feita através daquelas sacudidelas de ketchup para cima de uma toalha de restaurante. Em primeiro lugar, por se tratar de ketchup, que é um dos condimentos típicos, senão mesmo o mais típico, da alimentação norte-americana... Depois, pelo desperdício que aquele gesto representava na altura (o filme passa-se em 1951) em que os Estados Unidos eram um oásis de abundância num Mundo que uma boa parte ainda se estava a recompor da devastação causada pela Segunda Guerra Mundial...
Se os tempos fossem outros, quem sabe se este poste serviria de base para o argumento de um filme realizado por Elia Kazan e interpretado por Ronald Reagan, tudo gente do meio...
ResponderEliminarTenha um bom Natal
Um Bom Natal, JRD.
ResponderEliminarLembro-me de ter visto esse filme.
ResponderEliminarNa altura considerei-o bastante bom.
sou o João Moutinho ;-)
ResponderEliminarDe facto, João Moutinho, já se conhecia da História de Inglaterra um João-Sem-Terra, mas esse nome de registo que escolheu transformou-o num João-Sem-Apelido e, por inerência, neste mundo da blogosfera ainda se arrisca a passar por um João-Desconhecido...
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