07 dezembro 2008

- PAI! ESTOU A TENTAR PASSAR POR INGÉNUO…

Desde o princípio que a conduta de Dias Loureiro em reacção ao escândalo do BPN em que ele se viu envolvido me tem intrigado. Há todo um conjunto de gestos que ele podia ter feito, melhor dito, devia ter feito, e não fez. Um exemplo: mandariam as regras da boa educação que ele tivesse falado previamente a António Marta, informando-o da sua intenção de tornar pública a sua versão da conversa que eles haviam tido em 2001. Se tivesse sido assim, conhecendo de antemão a reacção de Marta, poderia ter evitado o desmentido. E mesmo se continuasse a querer tornar a sua versão pública, apesar do desmentido do interlocutor, poderia tê-lo feito antecipando o que se seguiria… É inacreditavelmente inábil!

Para todos os efeitos, o desfecho daquilo que venha a acontecer futuramente, tanto mediática quanto judicialmente, a Dias Loureiro já está amarrado a Cavaco Silva. O próprio Dias Loureiro será o único conhecedor cabal da exposição em que se poderá encontrar. Mas só uma dose incomensurável de ingenuidade de Dias Loureiro é que o poderá ter feito acreditar que se conseguiria manter incólume à ofensiva de investigações jornalísticas que se iriam seguir às notícias do escândalo do BPN. Os resultados dessas investigações aí estão, fornecidas em doses diárias como os capítulos das telenovelas, como os jornais as gostam de rentabilizar e como elas costumam produzir mais efeito de desgaste
Ora, nem que seja pelo seu passado político, tenho uma enorme dificuldade em considerar que Dias Loureiro possa ser um ingénuo assim tão grande – recorde-se acima, a sua actuação durante o buzinão da ponte em 1994… E se Dias Loureiro não for um ingénuo, então uma explicação persuasiva para o que se está a passar é que convirá a Dias Loureiro fazer-se passar por um ingénuo – por detrás da imunidade que o estatuto de conselheiro de estado lhe pode conferir... Não sei se o pai que recebeu a notícia do cargo ministerial do filho ainda estará entre nós, o destinatário daquele famoso – Pai! Já sou ministro! televisivo. Se felizmente isso ainda acontecer, tenho a certeza que o sentimento que o dominará por estes dias é muito diferente do dos dias de Julho de 1989…

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