Há que reconhecer que quase todos os movimentos ideológicos que se reclamaram da herança marxista se apropriaram, como seu símbolo, da foice e do martelo. Tenho para mim, que o que mais próximo existiu daquela sociedade que se reclama socialista e que ainda faz sonhar Odete Santos e os nostálgicos do XVIII Congresso do PCP do Campo Pequeno terá sido a da Alemanha Democrática. Não fosse a devoção iconográfica e creio que o verdadeiro símbolo desse comunismo de confronto e de concorrência com o capitalismo deveria ser o escudo da antiga República Democrática Alemã.
Além do seu martelo operário ao centro, a adição do compasso dá um espaço próprio, mais legítimo, aos intelectuais, superando uma das mais caricatas lacunas dos comunistas, que são obrigados a classificar como operários (no PCP, começa-se pelo exemplo de Jerónimo de Sousa) pessoas que não se aproximaram de uma máquina fabril há vários decénios… Além disso o alinhamento geométrico das espigas de centeio em redor dão ao conjunto a ideia daquele rigor organizativo que os comunistas tanto prezam e que agora se sabe que era muito maior entre os alemães do que entre os russos.
Conhece-se a cerrada disputa entre capitalismo e comunismo que se travou nas fronteiras internas da Alemanha, o desfecho da história, que não terminou bem para os comunistas. Ao contrário do que se costuma pensar, a maior parte dos muros que marcavam as fronteiras internas entre as duas Alemanhas já haviam sido erigidos em 1952, muito antes da construção do famigerado Muro de Berlim, que veio a dividir a cidade em Agosto de 1961. Essa separação física não evitou outras disputas Leste/Oeste que se travaram doutra forma, em pequenas histórias que aqui ainda virei a contar.
Mas o que se torna interessante é como durante aqueles 40 e poucos anos de Guerra-Fria e perante a Europa Ocidental, a Alemanha Democrática – mais do que qualquer outro país da Europa de Leste e muito mais do que a própria URSS – funcionou como uma espécie de montra da sociedade do que aqueles regimes podiam prometer. Se calhar, terá sido por isso que depois de 1989 terá sido implacável a forma como as fraquezas do regime foram denunciadas… Mas depois delas, será preciso ser de uma ingenuidade dialéctica para ainda acreditar que o fiasco do projecto se deveu a erros de implementação…
Em matéria de muros, não sou selectivo, não me agradam, sejam eles quais forem, mas tenho de reconhecer que, tendo em consideração o ângulo escolhido, a fotografia até é agradável e realça a criatividade dos artistas que o pintaram.
ResponderEliminarLamentavelmente, noutras paragens, num dos outros muros ainda (já) de pé. a decoração tem a forma dos buracos das balas.
Good Bye Lenine, um ilustre testemunho desse tempo que terminou. Aconselho também SOB UM SOL ENGANADOR (ou a ascensão brutal de Estaline) noutro tempo mas também esclarecedor de como se desvia uma utopia para os caminhos da barbárie. Ou ainda HOMO NOVUS ( O Homem Novo) a sociedade soviética pura e dura no final da década de 70. And so ion, and so ion, como diria Lauro Dérmio...
ResponderEliminarGOOD BLOG.I DONT KNOW THE LANGUAGE BUT UR LEFTIST SYMBOLS MADE ME HAPPY
ResponderEliminarAGHA
http://low-intensity-conflict-review.blogspot.com/
Obrigado ARTUR pelas referências cinematográficas que me deste.
ResponderEliminarNo caso deste poste, especificamente, eu concentrei-me mais em filmes como aquele que citei ou "A Vida dos Outros" (Das Leben der Anderen).
Pavocavalry:
ResponderEliminarA minimum knowledge of the language is, definitely, an advantage in situations like this but, if the sight of those symbols makes you happy, that´s good.
O lançamento Ponte dos Espioes é um filme bem interessante tratando da guerra fria e da praga que é o nacionalismo.
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