27 maio 2023

O MOTIM DO CONTRATORPEDEIRO GREGO

Depois de ter ocorrido uma tentativa abortada para uma insurreição naval na Grécia contra a Junta dos Coronéis que tomara o poder em 1967, o capitão e os oficiais de um dos navios de guerra da Marinha grega que participava em exercícios da NATO entre a Itália e a Sardenha, o contratorpedeiro Velos, decidiram-se a pedir asilo político ao país aliado que lhes estivesse mais próximo: a Itália. A guarnição do navio fundeou-o a 3,5 milhas náuticas (6,5 km) da costa em Fiumicino (onde se situa o aeroporto de Roma) e uma delegação de três oficiais veio a terra para, a partir das instalações do aeroporto, anunciarem a sua decisão às agências noticiosas internacionais, numa conferência de imprensa encabeçada pelo capitão do navio, o Antiploiarchos (capitão de fragata) Nikolaos Pappas. Pappas, seis oficiais e vinte e cinco outros membros da tripulação anunciaram a sua intenção de pedir asilo e permanecerem na Itália como refugiados políticos. Mais do que isso, correu um documento que foi subscrito por quase todos os 170 membros do navio, que acabou por não ser apresentado por receio de retaliações para com as famílias daqueles que apenas cumpriam o seu serviço militar. O episódio tornou-se num embaraço enorme para o regime grego. As notícias da época (acima) davam um grande ênfase à inspiração monárquica da revolta - o antigo rei Constantino II da Grécia encontrava-se desde finais de 1967 no exílio. Era essa a impressão também dos dirigentes da Junta que, no seguimento deste episódio, aproveitarão a ocasião para transformar a Grécia numa república em Junho de 1973. Mas os factos futuros virão indiciar que por detrás desta iniciativa terá estado mais a oposição democrática à Junta em Atenas. A questão de regime e do envolvimento do monarca terá sido muito acessória, ao contrário do que acima se lê. O referendo de 1973 que se pronunciou a favor da república foi repetido em Dezembro de 1974, depois da queda da Junta, com outras condições de liberdade de voto e os resultados vieram a ser muito semelhantes. Nikolaos Pappas e alguns dos oficiais exilados vieram a ser readmitidos na Marinha depois da queda da Junta. Tornado numa pessoa simbólica parta a Grécia democrática por causa deste seu gesto de há 50 anos, Pappas veio a retirar-se com a patente de almirante.

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