...porque elas demonstram quanto estes assuntos não se baseiam em qualquer critério objectivo. Portanto, o que há de esperar deles é a existência de múltiplas fraudes. Para contraste, um dos meus sommeliers preferidos só tem duas notações para o vinho que eu lhe dou a provar: ou escorrega bem ou escorrega mal. Outro dos meus sommeliers também é binário, mas atribui notações diferentes: ou o vinho é bom ou então: papá, isto é uma zurrapa! Não são apreciações sofisticadas, não há aromas nem taninos, mas sobra-lhes em honestidade o que lhes faltará em poesia, comparando-a com a desta outra apreciação a um vinho qualquer que aqui publiquei vai para mais de 15 anos:
«A pureza e sensualidade da fruta alentejana estão dentro do copo, vincadas pela personalidade da ameixa. As especiarias surgem por detrás deixando rasto a baunilha e noz-moscada, de agradável perfil, tudo avivado por uma frescura notável, equilibrada. Na boca mostra raça, estrutura, equilíbrio respeitável para quem tem 14º de corpo. Termina longo, fresco, vivo, com persistência de sabores a madeira, fruta e especiarias. Os taninos polidos, domesticados, cooperam com a acidez dando profundidade ao corpo no final de boca. Um conjunto imediato, apetecível, muito alentejano nos sabores.»
Ou seja, um chorrilho de disparates e de lugares comuns, cuja prática subsiste porque as pessoas, em geral, preferem seguir estas tretas aparentemente sofisticadas a aplicarem-se elas próprias a educar o seu paladar e a seguir os seus gostos. Poucos serão os que se dedicam a denunciar a prática, e sobretudo a mal prática, como se comprova e se denuncia neste caso belga acima. Há sempre espertalhões prontos a aproveitarem-se da estupidez alheia e nestes casos demonstra-se como é tão fácil ser-se espertalhão.
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