Ahlen é uma pequena cidade de 50.000 habitantes da Alemanha, localizada no distrito de Warendorf, na região administrativa de Münster, no estado de Renânia do Norte-Vestfália. Depois do fim da Segunda Guerra Mundial ficou a pertencer à zona de ocupação britânica. Foi aí que, há precisamente 75 anos, os políticos que haviam fundado a CDU (União Cristã Democrata) resolveram apresentar o primeiro dos documentos ideológicos daquela nova formação de centro direita, constituída depois da destruição do nazismo. O conteúdo do documento surpreende e, será por isso que hoje estará - convenientemente - esquecido. O Programa Ahlen da CDU criticava abertamente o sistema económico capitalista. Com seu apoio ao planeamento e à orientação económica, à descartelização e à nacionalização das grandes indústrias e concedendo amplos direitos de co-gestão aos trabalhadores, o programa constituía a expressão mais clara de uma posição socialista cristã por parte da nova classe política da CDU, embora o termo em si - socialismo cristão - não chegasse a ser mencionado no documento. Para aqueles mais familiarizados com o idioma alemão - como o presidente do PSD! - junto anexo uma ligação que torna possível consultá-lo (11 páginas). A primeira ocasião em que a CDU vai brandir este documento contra a esquerda do SPD e a extrema esquerda do KPD irá ser em 20 de Abril de 1947, nas eleições estaduais da Renânia do Norte-Vestfália, eleições essas que a CDU irá vencer, elegendo um dos seus para encabeçar o governo. Este é um outro exemplo da inflexão generalizada para a esquerda que foi registada - nas urnas! - pela grande maioria dos povos europeus nos anos que se seguiram ao fim da Segunda Guerra - época que hoje parece estar completa e convenientemente esquecida. Os partidos da direita tiveram que adaptar, naquela época, os seus discursos e os seus programas a esse facto. Muito se fala do exemplo britânico, mas a França do general de Gaulle nacionalizava os bancos mais importantes além do construtor automóvel Renault porque os seus proprietários - a família Renault - se haviam destacado pelo seu colaboracionismo com os alemães. Acresce, neste caso específico da Alemanha, que o país vivia ainda a expiação dos crimes mais hediondos cometidos durante o nazismo: nesse mesmo dia 3 de Fevereiro, em Hamburgo, terminava (mais) um julgamento de guardas do campo de concentração feminino de Ravensbruck com oito condenações à morte!
Lavoura, em vez de produzir comentários desinteressantes que já sabe que eu não publico, faça-se útil aos leitores do blogue e, com os seus conhecimentos de alemão que tem sempre tanto gosto em ostentar, traduza o programa de Ahlen (ou, pelo menos, a página publicada). Aí asseguro-lhe que lhe publico o comentário.
ResponderEliminarRosenthal, que apelido tão estranho para um réu em tal julgamento...
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