20 de Fevereiro de 1942. Embora tivesse sido muita aclamada, a habilidade diplomática do presidente do Conselho (Salazar) para evitar o envolvimento de Portugal na Segunda Guerra Mundial tinha os seus limites e, há precisamente oitenta anos, as notícias que chegavam do outro lado do Mundo mostravam essa limitação aos portugueses. «Tropas japonesas desembarcaram na parte portuguesa de Timor, o que representa uma nova (e aqui a palavra nova quer dizer que já houvera outra...) violação dos nossos direitos de soberania». A outra violação, prévia, fora a dos australianos, britânicos e holandeses. Como se pode ler no trecho abaixo, de um livro de uma testemunha dos acontecimentos, desde há dois meses (17 de Dezembro de 1941) que uma força militar dos aliados se instalara na mesma cidade de Dili onde os japoneses agora desembarcavam. Embora se tratasse de uma clara violação da neutralidade portuguesa nas suas possessões coloniais, esse outro episódio permanecera abafado pela censura na metrópole, porventura para manter as aparências. Mas era uma situação insustentável porque os japoneses não iriam tolerar aceitar Timor Oriental como um santuário onde as tropas aliadas se poderiam refugiar, depois de terem dominado e desarmado a pequeníssima guarnição portuguesa. Como se pode ler no fundo da página, perante este desembarque em maior força do que o precedente, e muito mais promovido do que fora o outro, «o sr. ministro do Japão fora recebido, em audiência, no palácio de S. Bento, pelo sr. dr. Oliveira Salazar, presidente do Conselho». Contudo, nada se dizia sobre o que fora discutido. E quanto à outra notícia, a do paquete «João Belo», que saíra de Lourenço Marques em 28 de Janeiro, escoltado pelo aviso NRP «Gonçalves Zarco», e transportando um batalhão que iria guarnecer Timor, a sua presença «a dois terços do extenso percurso» (de Maputo a Dili), a sua mobilização pecará por tardia - adivinhava-se que iria voltar para trás, sem desembarcar as tropas, como veio, de facto, a acontecer.
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