28 fevereiro 2022

UMA INDEPENDÊNCIA QUASE EM JEITO DE PARTIDA DE CARNAVAL

28 de Janeiro de 1922 foi uma terça-feira de Carnaval. E, muito provavelmente por acaso, foi também o dia escolhido pelo governo britânico - então encabeçado por David Lloyd George - para produzir uma declaração em que concedia unilateralmente a independência ao Egipto, país sobre o qual exercera até aí um protectorado. Aparentemente seria um acontecimento notável, já que em todo o continente africano só existiam então dois países independentes. Contudo, a concessão da independência estava tão associada a restrições à autonomia do Egipto independente que tanto o gesto como a ocasião se tornavam desprovidos de importância. Denominando-os por direitos de reserva, os britânicos reservavam-se, naquela declaração, os direitos de estacionar tropas no Egipto, para o «defender contra qualquer agressão ou interferência estrangeira», e o direito de reclamar prioridade para a movimentação de tropas através do estratégico Canal do Suez. O Reino Unido retinha ainda o direito de proteger os interesses estrangeiros e das minorias europeias no Egipto. Finalmente reservava-se o direito de intervir até na política externa egípcia. Não será por isso surpreendente que o anúncio e a dita independência, coincidente com a data carnavalesca, não tenha sido levado muito a sério. Significativo disso, a notícia só apareceu três dias depois na imprensa portuguesa (acima) e, mesmo assim, o que parece importante noticiar são «as conferências» entre o primeiro-ministro britânico e o governador britânico do Egipto, Edmund Allenby. Uma notícia onde não aparecem egípcios, os tais que deviam estar a celebrar, esfuziantes, a independência recém concedida... Apetece rematar esta evocação com ironia, acrescentando que os egípcios propriamente ditos, nem tinham direito a participar no corso desta independência de Carnaval...

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