Em 2007 a BBC publicou um artigo sobre o problema das migrações de africanos em busca da Europa. E já lá estava praticamente tudo aquilo que serve para descrever a actual crise dos refugiados (acima): as rotas, os destinos, os pontos de infiltração, a dimensão dos fluxos, mesmo quais as tarifas praticadas por quem transportava. Só que nesse artigo a porta de entrada para a Europa parecia ser predominantemente uma: a Espanha, e aí provavelmente a audiência mediática mobilizável por José Luís Zapatero, o primeiro-ministro espanhol na época, não se compararia à de Angela Merkel quando agora se lamenta e pede a solidariedade dos seus parceiros europeus.
Um mapa das migrações actualizado para 2015 (do Washington Post) já nos mostra muito mais focos de atrito, muito deles (a vermelho) já bem dentro das fronteiras da União. Não é apenas a tão falada fronteira da Hungria com a Sérvia (note-se como os migrantes não estão interessados em instalar-se na Grécia...), são também as fronteiras entre a Itália e a França e entre a França e o Reino Unido. Durante anos e pela sua localização geográfica, os países da Europa do Sul serviram de buffer states absorvendo uma parte do impacto dessas migrações. Só que, depois de 2008, o descalabro económico desses países (os PIGS) arruinou-lhes a reputação como destino das correntes migratórias e os alvos dessas correntes concentram-se agora todas no núcleo mais próspero da União Europeia.
No nosso caso concreto, só para exemplo e daquela altura para cá, deixámos de acolher brasileiros e ucranianos para passar a expedir portugueses. Por isso deveria ser com um certo sorriso irónico ao canto da boca que deveríamos ouvir as palavras de Angela Merkel (acima), ameaçando reinstalar as fronteiras dentro do Espaço Schengen, apelando para o estabelecimento de uma política comum quanto à definição dos direitos de asilo dos refugiados e para a sua repartição mais equitativa pelos outros países da União. Depois destes últimos anos mais azedos, torna-se refrescante ver que os alemães também gostam, quando lhe convém, de apelar à solidariedade europeia. Mas, como diz o nosso ditado popular, nem sempre se pode ter sol na eira e chuva no nabal.
Em 2007, o problema não tocava nos maiores países, logo podiam ignorar. Agora que são afectados, a postura é outra.
ResponderEliminarO que também não vi escrito é o desencadeou esta migração tão visível AGORA e não noutro período. Sabe porquê?
O problema toca os países maiores. Ainda nem há três meses, Renzi, o 1º ministro italiano fez um apelo muito semelhante ao que Merkel agora fez, só que caiu em orelhas moucas.
ResponderEliminarO domínio da máquina pela Alemanha e pela Itália são completamente distintas e é por isso que os problemas dos refugiados se tornaram tão importantes AGORA que as opiniões públicas dos países do centro da Europa se começam a inquietar com isso.
E nós submetemo-nos. Por algum motivo se acha que alguém dar um traque num lugarejo qualquer dos Estados Unidos é notícia que interessará aos portugueses, mas que o mesmo traque dado na Índia ou na Austrália já não nos interessa.