14 setembro 2015

NÓS E A EUROPA

Palavra que eu acredito que haverá decerto uma explicação racional para o facto de Portugal adoptar (e propagandear) sempre uma atitude eurobemcomportada tal qual se evidencia pela montagem de títulos de vários jornais que se apresenta acima. Só desejava é que um qualquer dos nossos governos a explicasse, talvez o actual. Não será por elas não terem praticamente acesso algum à comunicação social que o nosso governo se pode convencer que as opiniões eurocépticas desapareceram de Portugal. Nas últimas eleições europeias a coligação governamental apresentou um federalista (Paulo Rangel) a encabeçar a sua lista e o contraste era mínimo (para não dizer nulo) em termos de pensamento europeu com quem encabeçava a lista rival dos socialistas (Francisco Assis). Mas as críticas à União não se restringem à extrema-esquerda, apesar dessas aparências. E, chatice!, impõem-se pela sua pertinência, num ambiente em que certos assuntos europeus até parecem ser deliberadamente escamoteados. Parece-me, por exemplo, muito pertinente perguntar, a respeito da actualidade mediática e do assunto dos refugiados, o que se terá mudado nestes últimos três meses para que, esse problema, que em Junho desesperava Matteo Renzi de Itália (Primeiro-ministro pede apoio e ameaça "abrir ferida" na Europa - DN) e que então resvalou na indiferença colectiva dos seus parceiros europeus (Portugal incluído), se tornasse subitamente importante mas só quando a Alemanha e Angela Merkel lhe repegou, quando o mesmo problema dos refugiados apareceu em força mas já não na Itália, antes nos países da Mitteleuropa, que compõem os arredores da Alemanha. Só aí a questão adquiriu a importância que os títulos de jornal da recolha acima mostram. No processo, não deixa de ser significativo que aquele que sempre foi considerado o menor dos quatro grandes países da União (Alemanha, França, Reino Unido e Itália) já não consiga mostrar ter a capacidade de mobilização mínima dentro da megaestrutura, nem mesmo produzindo ameaças... Agora, só mesmo a Alemanha (e talvez a França de forma limitada) parecem reter essa capacidade. Neste figurino em que o poder cada vez mais se concentra, as opiniões dividir-se-ão se isso facilitará ou não a sua estabilidade. A Liga de Delos da antiga Grécia, por exemplo, sobreviveu por quase 75 anos sob a hegemonia de Atenas, tendo tido uma existência plena de peripécias. A União Europeia foi fundada como CEE há 57 anos, e as peripécias da sua formação também não são poucas, embora a ascensão á hegemonia pela Alemanha tenha ocorrido a um ritmo mais compassado que o de Atenas no século V a.C. É à luz destes exemplos históricos, longínquos mas comprovados, que devemos ter o distanciamento de pensar que aquilo que nos parece sólido também pode desaparecer subitamente. E é sobre esse cenário, em que o sólido edifício europeu de repente se desagregue, que eu gostaria de chamar a atenção pelo que poderia ser, mais uma vez, a nossa tradicional atitude eurobemcomportada: nessa eventualidade, seria bom que não nos armássemos em bombeiros voluntários enquanto a maioria dos nossos parceiros correriam decerto escadas abaixo de malas na mão para pôr os seus bens a bom recato. Sou de opinião que não nos devemos deixar lá ficar para apagar a luz (e os fogos), mesmo que o chanceler alemão da altura nos pedir com muita insistência...

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