A origem da expressão Cortina de Ferro, já aqui me referi a ela por mais do que uma vez no blogue, costuma ser atribuída a Winston Churchill. Na verdade, e como se pode descobrir na Wikipedia, a expressão já fora utilizada várias vezes antes desse discurso de 1946, embora noutros contextos. Salvo um caso. Um artigo de Goebbels publicado já no fim da Guerra, em Fevereiro de 1945, intitulado Das Jahr 2000 (o ano 2000), onde se pode ler:
Na conferência de Ialta os três dirigentes de guerra inimigos, com o intuito de executar o seu programa de destruição e extermínio do povo alemão, decidiram conservar toda a Alemanha ocupada até ao ano 2000. (...) Como dever ser vazios os cérebros daquelas três personagens, ou, pelo menos, de duas delas! Porque a terceira, Estaline, esse faz planos a mais longo prazo do que os outros dois associados. (...) Se o povo alemão se render, os soviéticos ocuparão (...) todo o Leste e o Sudeste da Europa, além da maior parte da Alemanha. Diante deste vastíssimo território, incluindo a União Soviética, descerá uma cortina de ferro (...). O resto da Europa cairá num caos político que nada mais será do que um período de preparação para a chegado do bolchevismo (...).
Estas são algumas das partes mais significativas do texto (veja-se a versão em inglês), na continuação a presciência de que aqui Goebbels dá mostras ir-se-á degradar com o despeito de vencido e aquilo que em inglês se designa por wishful thinking. Mas o que eu quero destacar desta história, agora que os muros da Europa se começaram a reerguer e que a sua existência se reapresenta como uma necessidade, é o erro irónico do título escolhido por Goebbels para o seu texto: Das Jahr 2000. É que o ano 2000 calhou precisamente numa fase, que agora se percebe intermédia e rara, em que a Europa não precisou de ter cortinas de ferro...
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