A 1 de Setembro de 1983, o Mundo foi surpreendido com a notícia que interceptores soviéticos haviam abatido um Boeing 747 civil da companhia sul-coreana de aviação (Korean Air Lines) com 269 pessoas a bordo. Todas as pessoas a bordo eram dadas como mortas, incluindo 62 passageiros de nacionalidade norte-americana. Com as notícias adicionais, veio a saber-se que o episódio tivera lugar durante a noite, em espaço aéreo soviético, quando o avião fazia a ligação entre Anchorage no Alaska e a capital da Coreia do Sul, Seul. O avião desviara-se da sua rota programada, atravessando espaço aéreo soviético (ver mapa mais abaixo), e a partir daí as versões divergiam…
Passados 26 anos, o melhor que os soviéticos e os seus sucessores russos ainda têm para apresentar como sua justificação continua a ser uma história nebulosa associando o voo do avião sul-coreano com o de um outro avião espião norte-americano e a consequente confusão entre os dois. Pelo contrário, a exploração mediática do incidente pelos norte-americanos foi um primor, retratando a União Soviética de acordo com aquilo que a Doutrina Reagan pretendia que ela fosse: uma potência imperialista agressiva. E, ao derrubar um avião civil de passageiros e recusando-se depois a assumir as suas responsabilidades por tê-lo feito, a União Soviética caiu direitinha na armadilha…
A manobra foi tão bem montada que os norte-americanos até conseguiram abafar as comparações a um outro episódio muito semelhante, que tivera lugar 15 anos antes, que fora na época um embaraço principalmente para os Estados Unidos, mas que sobretudo terminara com um desfecho completamente diferente. A 1 de Julho de 1968, durante um voo fretado que transportava soldados e que voava também de Anchorage no Alaska mas para uma base militar norte-americana no Japão, o avião civil (um DC-8 da Seaboard World Airlines) também se desviara da rota prevista, acabando por atravessar espaço aéreo soviético. Também nesse caso, caças soviéticos haviam interceptado o avião intruso.
Contudo, como se pode observar na fotografia acima, neste último caso as manobras haviam tido lugar de dia e o piloto do voo comercial recebeu, compreendeu e obedeceu às instruções que os interceptores lhe haviam imposto. Aterraram numa remota Base Aérea do Extremo Oriente russo e ali ficaram 238 norte-americanos à espera que a diplomacia do seu país os viesse libertar… Um embaraço maior, pelo seu simbolismo, era o facto dos 214 militares que estavam a bordo terem por destino o Vietname do Sul, numa época em que esse era o ponto quente da Guerra-Fria... Foram todos libertados 48 horas depois e, tão esquecido foi, que nem em 1983 houve quem quisesse recordar o incidente…