Quando a Índia anunciou, no passado dia 26 de Julho, que havia lançado à água o seu primeiro submarino nuclear de concepção nacional terá havido quem se aborrecesse deveras com tal realização técnica – a China, conforme o fez saber (na sua forma subtil...) à sua vizinha no 13º Encontro sobre Fronteiras Comuns que teve lugar imediatamente a seguir, em 7 e 8 de Agosto em Nova Deli (abaixo). E o que estará a incomodar os chineses não será apenas o significado político e táctico que poderá representar esta nova arma no arsenal da Marinha indiana, mas antes o significado estratégico da sua aparição tão rápida.
Ao anunciar o lançamento, o Primeiro-Ministro Manmohan Singh foi inequívoco em enaltecer a colaboração russa para o projecto, cujos conhecimentos foram cruciais para a solução do maior problema técnico que se coloca na construção de um submarino nuclear: a compactação de um reactor nuclear no espaço limitado de um navio. Mas a cooperação sobre tecnologia nuclear não se limita aos russos, uma vez que a Índia também celebrou, por exemplo e em 2005, um Acordo com os norte-americanos sobre transferência de tecnologia nuclear – embora nesse caso se destine exclusivamente a fins civis.
Em suma e em termos estratégicos, a Índia parece ter conseguido manobrar muito bem entre os seus antigos (Rússia) e novos (Estados Unidos) aliados, granjeando o estatuto de um parceiro muito desejável perante aquelas duas grandes potências, ambas receosas da ascensão da China. Esse favorecimento, em termos práticos, tem-se traduzido em condições muito mais vantajosas para a obtenção de conhecimentos sobre tecnologias sofisticadas (como a nuclear ou a espacial) e em programas de desenvolvimento concretizados em períodos muito mais rápidos do que aquilo que a isolada China teve que demorar, para grande irritação desta.
Em suma e em termos estratégicos, a Índia parece ter conseguido manobrar muito bem entre os seus antigos (Rússia) e novos (Estados Unidos) aliados, granjeando o estatuto de um parceiro muito desejável perante aquelas duas grandes potências, ambas receosas da ascensão da China. Esse favorecimento, em termos práticos, tem-se traduzido em condições muito mais vantajosas para a obtenção de conhecimentos sobre tecnologias sofisticadas (como a nuclear ou a espacial) e em programas de desenvolvimento concretizados em períodos muito mais rápidos do que aquilo que a isolada China teve que demorar, para grande irritação desta.
Até que a China se encontre "um dia" destes com a Índia num passeio pelos EUA e digam: Olá, ainda bem que te encontro. Tenho uma proposta interessante... Bem, é melhor falarmos depois de sair daqui...
ResponderEliminarNão percebi o seu comentário António Marques Pinto.
ResponderEliminarAlguma explicação devo por ter apagado dois comentários que eu próprio tinha inserido aqui. Aconteceu simplesmente que não gostei do que eu próprio escrevi.
ResponderEliminarEstava a meter-me por considerações que exigiam maior aprofundamento e desenvolvimento do que eu estou habilitado a fazer e do que a um espaço destes se adequa. Quando a intenção era esclarecer o primeiro comentário, a solução só aumentava o problema.
Correndo talvez os mesmos riscos, adianto a ideia que eu queria expôr, um pouco à margem do que trata o António Teixeira.
Pegando num corolário desta estratégia diplomática da Índia, isto é, na correspondente ajuda dos EUA à política armamentista da Índia – que não é directamente o que trata o post, eu sei – lembrei-me de alguns efeitos perversos de tais ajudas noutras circunstâncias e regiões, em que as armas acabam por voltar-se contra os seus criadores. Tudo porque, um dia, estratégias regionais e culturais falam mais alto do que fidelidades políticas.
Ora, pairando na região asiática o “espectro” de um bloco asiático formado pela Índia, juntamente com o Irão, países turcófonos da Ásia Central e a Rússia, mas também a própria China, necessariamente, os namoros interesseiros deste caso, que envolvem (também) os EUA, vivem sob a suspeita de futuras “traições”.
Mas não é isto que me tira o sono, claro.
Obrigado pelo esclarecimento, António Marques Pinto. Que foi muito importante para que eu percebesse porque é que não tinha percebido o seu comentário inicial...
ResponderEliminarPara os leitores que já se sintam confusos, deixem-me adverti-los que o comentário vai piorar... Não há outra maneira de me explicar.
A estratégia está muito longe de ser uma disciplina exacta. Mesmo assim, existem autores que estabeleceram certas regras de relações internacionais e quanto à formação de Alianças entre Estados.
Fala-se muito do chinês Sun Tzu mas há um autor indiano da Antiguidade (Séc. III a.C.) que se chamava Chanakya que escreveu um Tratado chamado Arthashastra. Procure aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/Arthashastra - mas não acredite em tudo o que lá vem...
Uma das regras das Alianças entre estados ali descrita é que cada estado tende a tomar por rival o seu vizinho e a tomar como aliado o vizinho do seu vizinho...
Não é matemático mas a regra frequentemente aplica-se: a França era rival da Alemanha e aliada da Polónia; a China é rival da Índia e aliada do Paquistão.
E claro que existem desvios à regra: o Irão devia ser rival da Rússia e não dos Estados Unidos; a China e a Rússia são naturalmente rivais e não aliadas como o fforam entre 1949 e 1960.
É por isso que nem sequer concebi (nem concebo) que se possa formar o bloco asiático - anti-Estados Unidos - que descreveu.
Ao contrário do que suponho aconteça com o António Marques Pinto, eu não me considero ideologicamente um internacionalista e, para mim, aquele período de unidade no marxismo-leninismo (1949-60) entre russos e chineses foi uma fase anómala da hsitória dos dois povos e não um período de sucesso do marxismo-leninismo que culminou com mais um daqueles "fracassos de um modelo"...
Eu que duvidei de Cristo desde a minha adolescência e de Marx desde a derrocada do bloco soviético, pelo menos; eu que acabo de duvidar de mim mesmo quando apaguei o comentário que escrevi pouco tempo antes... ia lá acreditar "em tudo" o que disse Chanakya no século III a.C..
ResponderEliminarFica esta troca de ironias como agradecimento pela sua atenção e esclarecimentos.
Como costuma fazer a Maria do Sol quando não há nada para dizer mas há um estado de espírito para manifestar:
ResponderEliminar:)