Ainda ontem tive uma conversa sobre as interpretações associáveis à palavra inteligência (do latim intelligentia) que agora tem de conviver com a palavra homónima inteligência (do inglês intelligence). Trata-se de mais um dos inúmeros casos do português em que uma mesma palavra tem dois significados distintos. O segundo caso é um anglicismo cuja adição recente (depois de 1950) ao nosso idioma até era desnecessária pois já havia expressão equivalente: informações.
No seguimento, fiz uma revista ao sítio da estante onde estão arrumados os meus livros sobre espionagem e reencontrei lá o pequeno exemplar acima (140 páginas), datado de 1982 e de origem francesa (daí dispensando a inteligência no título...), contendo uma simples mas preciosa explicação em que consiste a actividade. A sua história e o seu âmbito. A distinção entre aquisição, transmissão e tratamento da informação. O comportamento simétrico da espionagem e da contra-espionagem.
Mas o que mais importante aquele livro contém é uma explicação sobre os problemas da avaliação dos resultados da inteligência por parte dos poderes externos e das formas como os especialistas do ramo se costumam escapar a essas avaliações. Existem duas técnicas de evasão clássicas: a) o secretismo (não se pode explicar publicamente por causa da sensibilidade do assunto...) e b) a especulação (foi o que se conseguiu fazer com estes escassos meios; imagine-se se não estivéssemos cá…)
Assim, mesmo quando colocado perante os piores fiascos, o aparelho das informações vai-se aguentando porque ninguém fora do clã tem condições para discutir o assunto de um ponto de vista técnico e profissional. Refira-se que o método tem sucesso e já o encontrei aplicado por outros grupos profissionais: nas empresas de transportes de valores, quando de um gigantesco assalto; entre as corporações de bombeiros, a propósito dos incêndios mal controlados; entre os supervisores da actividade bancária… Avaliando-a apenas pelos grandes resultados (por impossibilidade, como vimos acima, de o fazer de outro modo) e como já aqui no blogue havia assinalado a propósito de um livro recentemente publicado a respeito das actividades da CIA, que os leitores me perdoem o trocadilho, mas a inteligência tem sido bastante estúpida. Recorde-se que a CIA foi criada em 1947 para que os Estados Unidos não fossem novamente surpreendidos por acontecimentos como o ataque a Pearl Harbour em Dezembro de 1941…
Naturalmente que há a tendência para nos concentrarmos no exemplo da CIA e dos Estados Unidos. Como seria de esperar os orçamentos para a espionagem são sempre… secretos, e os únicos números acessíveis serão incertos. Mas uma boa estimativa será o valor de 44.000 milhões de dólares em 2005, referido neste site. Corresponde a 0,4% do PIB norte-americano desse ano. Comparando, eis uma lista não exaustiva de eventos significativos que a inteligência ocidental não antecipou de há 60 anos para cá:
Mas o que mais importante aquele livro contém é uma explicação sobre os problemas da avaliação dos resultados da inteligência por parte dos poderes externos e das formas como os especialistas do ramo se costumam escapar a essas avaliações. Existem duas técnicas de evasão clássicas: a) o secretismo (não se pode explicar publicamente por causa da sensibilidade do assunto...) e b) a especulação (foi o que se conseguiu fazer com estes escassos meios; imagine-se se não estivéssemos cá…)
Assim, mesmo quando colocado perante os piores fiascos, o aparelho das informações vai-se aguentando porque ninguém fora do clã tem condições para discutir o assunto de um ponto de vista técnico e profissional. Refira-se que o método tem sucesso e já o encontrei aplicado por outros grupos profissionais: nas empresas de transportes de valores, quando de um gigantesco assalto; entre as corporações de bombeiros, a propósito dos incêndios mal controlados; entre os supervisores da actividade bancária… Avaliando-a apenas pelos grandes resultados (por impossibilidade, como vimos acima, de o fazer de outro modo) e como já aqui no blogue havia assinalado a propósito de um livro recentemente publicado a respeito das actividades da CIA, que os leitores me perdoem o trocadilho, mas a inteligência tem sido bastante estúpida. Recorde-se que a CIA foi criada em 1947 para que os Estados Unidos não fossem novamente surpreendidos por acontecimentos como o ataque a Pearl Harbour em Dezembro de 1941…
Naturalmente que há a tendência para nos concentrarmos no exemplo da CIA e dos Estados Unidos. Como seria de esperar os orçamentos para a espionagem são sempre… secretos, e os únicos números acessíveis serão incertos. Mas uma boa estimativa será o valor de 44.000 milhões de dólares em 2005, referido neste site. Corresponde a 0,4% do PIB norte-americano desse ano. Comparando, eis uma lista não exaustiva de eventos significativos que a inteligência ocidental não antecipou de há 60 anos para cá:
1) O primeiro teste nuclear soviético (1949)
2) A intervenção chinesa na Guerra da Coreia (1950)
3) A revolução na Hungria (1956)
4) A construção do Muro de Berlim (1962)
5) A Guerra do Yom Kippur (1973)
6) A revolução iraniana (1979)
7) A invasão iraquiana do Kuwait (1990)
8) O Golpe de Agosto e a implosão da União Soviética (1991)
9) O genocídio no Ruanda (1994)
10) Os testes nucleares indianos (1998)
11) Os ataques do 11 de Setembro (2001)
2) A intervenção chinesa na Guerra da Coreia (1950)
3) A revolução na Hungria (1956)
4) A construção do Muro de Berlim (1962)
5) A Guerra do Yom Kippur (1973)
6) A revolução iraniana (1979)
7) A invasão iraquiana do Kuwait (1990)
8) O Golpe de Agosto e a implosão da União Soviética (1991)
9) O genocídio no Ruanda (1994)
10) Os testes nucleares indianos (1998)
11) Os ataques do 11 de Setembro (2001)
Num cálculo aritmético rápido, são 4 mil milhões de dólares por cada fiasco...
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