A propósito da muito criticada facilidade que existe actualmente para se ter acesso ao crédito bancário (veja-se a publicidade acima), ocorreu-me recordar os antigos Cabazes de Natal. É uma evocação duplamente despropositada, atrasada por um lado, porque o apogeu desse negócio terá sido há uns 40 anos atrás, e fora de época por outro, porque há que reconhecer que o pino do Verão não será a ocasião que mais associaremos à quadra natalícia, altura em que se consumia o referido Cabaz de Natal...
Mas note-se que havia que começar cedo a pensar no assunto do Natal. Se lermos com atenção a publicidade que naquela época se fazia ao produto (clique em cima da gravura abaixo para a ampliar), percebe-se melhor como a coisa funcionava. A partir de Março do Ano a que se reportava o Cabaz, começava-se a descontar antecipadamente uma prestação suave de 100$00 por mês, até se perfazerem em Dezembro as dez que totalizavam os 1.000$00, valor que a organização atribuía ao riquíssimo cabaz…
O cabaz era composto por whisky – espumante – vinho do porto – brandy – ...enfim, um sortido infindo de bebes e comes complementado por... – presente para senhora – presente para homem – brinquedo para menina – brinquedo para menino – um bom livro – surpresas de Natal. Logo na perspectiva financeira, para a empresa organizadora o negócio começava excelente. Ao contrário do que acontece com o crédito na actualidade, os clientes começavam a pagar antecipadamente aquilo que só viriam a consumir meses depois…
E o preço de 1.000$00 atribuído ao conjunto do cabaz estava claramente sobreavaliado, o que permitia à organização aceitar qualquer interessado em aderir ao programa em qualquer momento, mesmo em Dezembro, desde que se dispusesse a pagá-lo de uma vez só. Nem nesse último caso deveria perder dinheiro… Tudo isso permitia que houvesse um robusto orçamento publicitário, tanto na imprensa (acima) como na rádio, onde me lembro de um jingle nos Parodiantes de Lisboa: Não há Natal capaz… Sem o Cabaz… Sem o Cabaz…
A democratização do crédito ao consumo acabou com estes negócios que, como se percebeu, não passavam de um abuso destinado a incautos e a ignorantes, pertencentes na sua maioria às camadas menos esclarecidas da população. E durante décadas não se ouviu falar de Cabazes de Natal. A designação ressuscitou recentemente mas os novos Cabazes do Natal destinam-se agora a um outro público-alvo, os socialmente preocupados, que o antigo público já pode oferecer-se o seu LCD comprado a crédito pelo Natal…
Agora são as ONG(*) benfazejas que se propõem vender Cabazes de Natal a preços justos (abaixo) cujas receitas revertem para si próprias. E se acima descrevi como funcionava o antigo negócio dos Cabazes de Natal este negócio moderno das ONG internacionais talvez seja comparável… Reflicta-se que, no tempo em que eram os pobres que compravam os Cabazes de Natal, havia umas meras dezenas dessas ONG no Mundo(**); hoje são dezenas de milhar e tornou-se um dos sectores de actividade mais dinâmicos das últimas décadas...
Contudo, nesses mais de 40 anos, o Mundo não parece ter-se tornado assim tão melhor com isso…
(*) - Organizações Não Governamentais
Mas note-se que havia que começar cedo a pensar no assunto do Natal. Se lermos com atenção a publicidade que naquela época se fazia ao produto (clique em cima da gravura abaixo para a ampliar), percebe-se melhor como a coisa funcionava. A partir de Março do Ano a que se reportava o Cabaz, começava-se a descontar antecipadamente uma prestação suave de 100$00 por mês, até se perfazerem em Dezembro as dez que totalizavam os 1.000$00, valor que a organização atribuía ao riquíssimo cabaz…
O cabaz era composto por whisky – espumante – vinho do porto – brandy – ...enfim, um sortido infindo de bebes e comes complementado por... – presente para senhora – presente para homem – brinquedo para menina – brinquedo para menino – um bom livro – surpresas de Natal. Logo na perspectiva financeira, para a empresa organizadora o negócio começava excelente. Ao contrário do que acontece com o crédito na actualidade, os clientes começavam a pagar antecipadamente aquilo que só viriam a consumir meses depois…
E o preço de 1.000$00 atribuído ao conjunto do cabaz estava claramente sobreavaliado, o que permitia à organização aceitar qualquer interessado em aderir ao programa em qualquer momento, mesmo em Dezembro, desde que se dispusesse a pagá-lo de uma vez só. Nem nesse último caso deveria perder dinheiro… Tudo isso permitia que houvesse um robusto orçamento publicitário, tanto na imprensa (acima) como na rádio, onde me lembro de um jingle nos Parodiantes de Lisboa: Não há Natal capaz… Sem o Cabaz… Sem o Cabaz…
A democratização do crédito ao consumo acabou com estes negócios que, como se percebeu, não passavam de um abuso destinado a incautos e a ignorantes, pertencentes na sua maioria às camadas menos esclarecidas da população. E durante décadas não se ouviu falar de Cabazes de Natal. A designação ressuscitou recentemente mas os novos Cabazes do Natal destinam-se agora a um outro público-alvo, os socialmente preocupados, que o antigo público já pode oferecer-se o seu LCD comprado a crédito pelo Natal…
Agora são as ONG(*) benfazejas que se propõem vender Cabazes de Natal a preços justos (abaixo) cujas receitas revertem para si próprias. E se acima descrevi como funcionava o antigo negócio dos Cabazes de Natal este negócio moderno das ONG internacionais talvez seja comparável… Reflicta-se que, no tempo em que eram os pobres que compravam os Cabazes de Natal, havia umas meras dezenas dessas ONG no Mundo(**); hoje são dezenas de milhar e tornou-se um dos sectores de actividade mais dinâmicos das últimas décadas...
Contudo, nesses mais de 40 anos, o Mundo não parece ter-se tornado assim tão melhor com isso…
(*) - Organizações Não Governamentais
(**) - Em 1946 havia 41 ONG internacionais reconhecidas com estatuto consultivo junto da ONU. Em 2003 esse número multiplicara-se para 3.550. Hoje estima-se que haja cerca de 40.000 ONG internacionais em todo o Mundo...
Bolas. Há assim tantas ONG. E o que t~em andado a fazer? Eu até gosto de comprar np comércio justo. mas agora começo a pôr em causa a justeza de tudo isto.
ResponderEliminarFaz-me lembrar quando estive no Songo, cidade que serve Cahora-Bassa, vi à venda nos mercados, as roupas que iam daqui e eram distribuídas gratuitamente por algumas Ong de então...