21 fevereiro 2009

A AUTODETERMINAÇÃO DOS POVOS

Já é possível fazer um balanço distanciado da Era da Descolonizações (1945-1984) (*) e pode-se fazer uma avaliação do que restou dos antigos impérios coloniais. Do dos britânicos ficou aquilo que era impossível política ou economicamente que eles se desfizessem (como Gibraltar) enquanto, em contraste, os franceses ficaram com tudo aquilo que era possível com que ficassem (abaixo). No caso dos portugueses, esses ficaram sem nada, embora haja algumas opiniões maliciosas que acham que se devia ter aproveitado a dinâmica de 1975 para se ter acabado com os encargos com a Madeira e os Açores…
Por falar em reivindicações, as características das populares que trouxeram recentemente os territórios franceses de Guadalupe e da Martinica nas Antilhas para as primeiras páginas dos noticiários são significativas de como a geopolítica deste Século XXI mudou em relação à da segunda metade dos da segunda metade do Século XX. É que os protestos de quem vive nesses Departamentos do Ultramar (**) refere-se sobretudo à forma discriminatória como são tratados em relação à metrópole, sendo acompanhados nas suas queixas, pelos vistos, pelos intelectuais locais que se mostram solidários com os grevistas
Ora, se os intelectuais de antanho eram extremamente lestos a brandir a bandeira da autodeterminação por sinónimo de independência (ainda recentemente me referi a uma música de Sérgio Godinho de 1974 a esse propósito: A África é dos africanos, já chega 500 anos…), os da actualidade tornaram-se porta vozes das novas reivindicações das populações locais, que já descobriram que os orçamentos da metrópole são muito mais robustos do que os de uma eventual nação independente: podem obter-se 200 euros de aumento para o salário mínimo entre um pacote de ajudas que totalizam 580 milhões
Se há inúmeros pontos do globo onde ainda se fazem sentir a acção de movimentos separatistas nacionalistas, passou a haver muitos outros onde eles têm condições para se exprimirem com toda a liberdade democrática, como serão estes dois casos de Guadalupe e da Martinica, mas onde eles simplesmente não se impõem, apesar do descontentamento popular e de taxas de desemprego de 25%… O nacionalismo já não é o que era e os tempos continuaram a mudar muito desde o tempo em que intelectuais como Bob Dylan cantavam que The Times They Are A-Changin´ (Os Tempos estão a Mudar)…

Para que eles continuem a mudar ainda mais, pode ser que passemos para uma nova fase na geopolítica: a das desindependências… E estou a pensar em meia dúzia de casos em que isso poderia acontecer, alguns envolvendo Portugal...

(*) Vejam-se alguns postes que aqui publiquei, no quadro de uma série mais alargada, intitulada As Independências ao Longo do Século XX: períodos de 1944-1956, 1957-1975 e 1976-1984.
(**) Départements d´Outre-Mer, abreviado DOM, no original. Recorde-se que a palavra Ultramar (tradução directa do francês Outre-Mer) era uma expressão incontornável da política colonial do Estado Novo.

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