10 fevereiro 2009

F – 117 O FIASCO FURTIVO

Uma produção típica da Guerra-Fria, o F – 117 foi o resultado de um daqueles programas ultra-secretos dos Estados Unidos, cujo objectivo foi o de criar um avião de caça furtivo que, atacando de noite, fosse praticamente impossível de ser detectado pelos radares inimigos. Para o construir, recorreu-se a uma tecnologia que estava então (anos 70) em fase embrionária e que permitia absorver as ondas de radar. O resultado foi o avião que se pode aqui ver, de uma cor preta discreta e um aspecto bizarro.
A contrapartida a pagar pelo resultado eram, não só custos proibitivos de produção (*), como uma enorme lista de limitações para que o F – 117 mantivesse a capacidade de não ser visto pelos radares inimigos: por um lado, não podia atingir grandes velocidades (no máximo 1.000 km/h) mas era extremamente instável quando em baixas; não podia possuir um radar próprio para localizar os alvos senão seria imediatamente identificado, etc. Terá sido por isso que permaneceu um projecto secreto?…
Entre 1983 e 1988 a USAF entregou-se a um interessante jogo, negando a existência de um avião com tais características, excitando a curiosidade pública. Quando foi utilizado pela primeira vez em operações durante a Guerra do Golfo (1991) e, como costuma acontecer quando há um filho deficiente na família, foi dado um destaque desmesurado às proezas realizadas pelos F – 117 (normalmente bombardeamento de alvos) quando em comparação com o desempenho dos outros tipos de aeronaves norte-americanas.
As suas insuficiências só vieram ao de cima quando pela primeira vez teve que enfrentar um inimigo que, para além de equipado, era também qualificado: o exército jugoslavo (1999). É que experimentalmente os jugoslavos vieram a descobrir que usando os seus sistemas de radares soviéticos mesmo obsoletos em comprimentos de onda extra-longos conseguiam detectar a localização do tal avião que fora concebido para não ser detectado… E o F – 117 nem sequer fora concebido para detectar que fora detectado…
Houve apenas um F – 117 a ser abatido sobre a Jugoslávia em Março de 1999. Foi-o até por um míssil terra-ar SA-3 de concepção soviética (acima), um venerável sistema de armamento originalmente concebido em 1963… Mas esse abate bastou para ser o fim de um enorme bluff concebido pela USAF, embora a retirada dos F – 117 do serviço activo se tenha processado com a mesma panache que acompanhara a sua introdução: apenas em Abril de 2008 é que isso finalmente aconteceu (**)...

(*) Cada F - 117 teve um custo de produção unitário três vezes superior ao de um F-16, um outro avião de caça norte-americano seu contemporâneo, que ainda é hoje utilizado pela Força Aérea Portuguesa e pela maioria das Forças Aéreas da NATO.
(**) Enquanto o F - 117 (1983) saía de serviço, outros aparelhos de caça mais antigos continuam ao serviço da USAF, como são os casos do F-15 (1976) ou do F-16 (1978).

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