19 fevereiro 2009

A GUERRA DA SAVANA RODESIANA (RHODESIAN BUSH WAR)

Os britânicos tiveram a sua Malásia e os norte-americanos o seu Vietname, ambas em regiões tropicais, os franceses a sua Argélia e os soviéticos o seu Afeganistão, ambas em regiões áridas, houve ainda outras, mas a guerra subversiva que mais se terá assemelhado em todos os aspectos a qualquer das três que foram travadas pelos portugueses em África terá sido a Guerra da Savana Rodesiana (Rhodesian Bush War).
Há muitas mais coisas a torná-las semelhantes do que apenas uma questão de todas elas se terem travado no mesmo continente, em regiões de proximidade (no caso de Angola) ou mesmo de contiguidade geográfica (no caso de Moçambique). Também é mais do que a circunstância de haver uma quase sobreposição temporal entre os três casos envolvendo os portugueses (Angola, Guiné e Moçambique, 1961-74) e o rodesiano (1965-80).
É o caso das fotografias de propaganda do regime se assemelharem, como a de cima, com mulheres e crianças de fazendeiros brancos assassinados pelos guerrilheiros da ZAPU em 1975, a lembrar as que haviam sido tiradas em 1961 no Norte de Angola, na sequência das acções da UPA. Como os portugueses haviam conseguido em Angola, também na Rodésia conseguiram dividir a oposição armada em mais do que um movimento: ZAPU e ZANU.
Assim como o Zaire protegia as acções da FNLA no conflito angolano, no rodesiano era a Zâmbia que protegia a ZAPU (pró-soviética, assinalada acima em escuro com a foice e martelo) enquanto era Moçambique (depois de 1975) a proteger a ZANU (pró-chinesa, assinalada a claro com uma estrela). Como se pode observar, cada um dos movimentos tinha os seus santuários e os seus corredores de infiltração distintos.
As patrulhas que levavam a cabo as acções de contra-subversão podem ser confundidas à primeira vista com as suas homólogas do exército português, com o mesmo tipo de camuflado, o mesmo tipo de arma individual (a FN FAL), até o próprio barrete (com abas protegendo a nuca) era semelhante ao volkswagen usado pelos portugueses!… Os problemas com que se defrontavam eram idênticos e as soluções frequentemente semelhantes…
É o caso das operações helitransportadas, recorrendo precisamente ao mesmo tipo de aeronaves, os Allouette III de concepção francesa, por causa do boicote anglo-saxónico à aquisição de novo material de guerra. Mas note-se como este Alouette III já é posterior a 1974 e já está equipado com um dispersor nos exaustores da traseira do motor para dificultar a fixação por parte de mísseis SA-7 Strela que viessem a ser disparados do solo…
O equivalente aos Fiat G.91 (a superioridade aérea) era o Hawker Hunter (acima). Mas como eram considerados como um estado pária pela comunidade internacional, os rodesianos possuíam uma outra liberdade de acção (que esteve interdita a Portugal, com lugar na ONU e membro da NATO) para atacarem abertamente os santuários da guerrilha localizados nos países limítrofes. É isso que explica o Raid Green Leader, realizado a 18 de Outubro de 1978.

Por um período de cerca de meia hora, uma esquadrilha de 6 Hunters, acompanhada de outra de 4 bombardeiros Canberra, tomou conta do espaço aéreo zambiano, enquanto bombardeavam a principla base da ZAPU, que se situava perto da capital da Zâmbia, Lusaka. O vídeo acima reproduz parte das instruções então dadas pelo líder da esquadrilha atacante à torre de controlo do aeroporto de Lusaka…
Que contraste com a (tentativa de) discricionariedade da Operação Mar Verde em Conacri em 22 de Novembro de 1970! Nestes momentos, que o tempo transcorrido acabava por tornar propenso ao revisionismo histórico, vale a pena perguntar qual terá sido a contribuição destas operações especiais, tão ousadas quanto ilegais, para o desfecho das guerras… Muito pouca! Afinal, tanto os rodesianos como os portugueses perderam as suas Guerras…

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