11 novembro 2008

A VOZ DA IGNORÂNCIA

Depois das recentes eleições presidenciais norte-americanas, correu a notícia, até aí escondida, que a candidata republicana à vice-presidência, Sarah Palin, se revelara detentora de uma ignorância olímpica a que adicionava uma estupidez confrangedora. A notícia era exemplificava, explicando como ela julgaria que África era um país e não um continente, e quando depois lhe explicarem que não era assim, que havia dezenas de países africanos, ela voltara à carga, mostrando que não percebera nada do que se lhe havia sido explicado, perguntando se a África do Sul era a região mais ao Sul da tal África…

Vem isto um pouco a propósito da sul-africana Miriam Makeba, que faleceu recentemente. E, já agora, por falar na morte de grandes divas, pergunto-me se, por ocasião da de Amália Rodrigues, alguém se terá atrevido ao exagero de arranjar um cabeçalho evocando o desaparecimento da Voz da Europa? Ponho as minhas dúvidas e seria sempre com enorme controvérsia que se poderia atribuir essa qualificação continental a qualquer grande voz da canção europeia: A Jacques Brel? Ou aos ABBA? Não tenho dúvidas, porque pode ser lido aqui, é quem tenha tido a ousadia de chamar a Miriam Makeba, sem hesitações, A Voz de África

Como acontece com os exemplos europeus, Miriam Makeba era uma grande voz de África, mas teria sido mais asisado ao autor da frase moderar-se, ou, mais provável, conhecer outras vozes de África antes de a nomear A Voz de África… A diferença é que Sarah Palin é tratada como uma espécie de tambor reaccionário, excelente para bater, enquanto quem assim crismou Miriam Makeba estará situado na corrente das pessoas progressistas e condescendentemente bem intencionadas. Talvez só seja por isso que o tratamento das duas ignorâncias é distinto – e não devia. Porque há outras grandes vozes sul-africanas e há muita outras (boas) vozes no Continente.


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