Os norte-americanos sempre insistiram que o sistema anti-míssil que eles pretendem instalar na Polónia e na República Checa não se destina a ameaçar os russos, nem sequer constituiria um sistema de defesa que se revelasse eficaz contra o dispositivo ofensivo dos russos. O sistema norte-americano que os norte-americanos pretendem instalar pode ser eficaz, mas apenas para ameaças de pequena dimensão, constituídas por um punhado de mísseis com ogivas nucleares de uma pequena potência, como seria o caso do Irão, ou então no caso do cenário (muito ao gosto de Hollywood...) de uma facção dissidente que se apoderasse de uma pequena parte do dispositivo russo.
Do ponto de vista táctico, mesmo para um leigo, a argumentação norte-americana é de levar em conta. Aos russos não interessa mencionar, na sua propaganda, que o dispositivo que os norte-americanos pretendem instalar na Polónia, é composto apenas por 10 silos para mísseis de intercepção, enquanto os russos, mesmo contando apenas com os ICBM* de última geração, e mesmo depois de todos os acordos de desarmamento, ainda dispõem actualmente de cerca de 40 SS-18, 126 SS-19, 201 SS-25 e 65 SS-27, para não mencionar os mísseis lançados a partir de submarinos, como o Bulava. Qualquer destes 450 mísseis possui ogivas múltiplas (MIRV*), ou seja, transporta várias bombas atómicas, cerca de 2.000 no total...
Ainda que discretamente, longe dos holofotes da propaganda, os especialistas russos são os primeiros a reconhecer que, mesmo que os norte-americanos decuplicassem o sistema anti-míssil que estão a instalar no Leste da Europa, esse sistema nunca conseguiria assegurar que neutralizaria uma ofensiva russa. Mas, perguntam os russos, se (e aqui entramos nos jogos de guerra à boa maneira da Guerra-Fria…) os norte-americanos atacassem primeiro? Aí, os mísseis de intercepção instalados na Polónia só teriam que se haver com a retaliação russa e com os mísseis russos que tivessem sobrevivido ao primeiro ataque norte-americano… Daí, concluem os russos, a importância da sua neutralização.
A explicação é plausível mas rebuscada, digna de um falcão do antigamente. Desde o princípio se percebeu que esta questão não é apenas, nem principalmente, do âmbito militar mas sim do âmbito político e estratégico, por muito que a argumentação dos norte-americanos pareça inocente. Como acontecia antigamente com os Impérios, que nas regiões fronteiriças conflituosas marcavam os seus limites com muralhas, parece as potências de hoje marcam os limites das suas áreas de influência com sistemas de mísseis. E é nessa gramática que se entende esta decisão anunciada pelo Presidente Medvedev de instalar mísseis SS-26 no enclave de Kaliningrado – e provavelmente também o fará na Bielorrússia.
Ainda que discretamente, longe dos holofotes da propaganda, os especialistas russos são os primeiros a reconhecer que, mesmo que os norte-americanos decuplicassem o sistema anti-míssil que estão a instalar no Leste da Europa, esse sistema nunca conseguiria assegurar que neutralizaria uma ofensiva russa. Mas, perguntam os russos, se (e aqui entramos nos jogos de guerra à boa maneira da Guerra-Fria…) os norte-americanos atacassem primeiro? Aí, os mísseis de intercepção instalados na Polónia só teriam que se haver com a retaliação russa e com os mísseis russos que tivessem sobrevivido ao primeiro ataque norte-americano… Daí, concluem os russos, a importância da sua neutralização.
A explicação é plausível mas rebuscada, digna de um falcão do antigamente. Desde o princípio se percebeu que esta questão não é apenas, nem principalmente, do âmbito militar mas sim do âmbito político e estratégico, por muito que a argumentação dos norte-americanos pareça inocente. Como acontecia antigamente com os Impérios, que nas regiões fronteiriças conflituosas marcavam os seus limites com muralhas, parece as potências de hoje marcam os limites das suas áreas de influência com sistemas de mísseis. E é nessa gramática que se entende esta decisão anunciada pelo Presidente Medvedev de instalar mísseis SS-26 no enclave de Kaliningrado – e provavelmente também o fará na Bielorrússia.
Os SS-26 (acima) são mísseis mais pequenos, de curto alcance (designados por SRBM*), terão um alcance até 400 km e virão a estar dirigidos aos silos dos mísseis norte-americanos na Polónia. A fase seguinte da escalada, que parece já estar em curso, é a de guarnecer o local da Polónia onde estão instalados os mísseis norte-americanos, com mísseis anti-mísseis, para os defender dos SS-26: são os MIM-104 Patriot (abaixo), que se tornaram tão famosos quanto controversos na Primeira Guerra do Golfo. Mas isso são tudo medidas de segurança passivas. Tanto os russos (e os bielorrussos) como os polacos e checos (estes equipados pelos norte-americanos) também poderão aumentar o dispositivo ofensivo das suas forças aéreas…
Mas talvez a explicação e a solução para esta potencial e inoportuna (devido ao ambiente económico) escalada militar possam ser também políticas, com o gesto de Dimitri Medvedev a ser interpretado como uma jogada de antecipação e de condicionamento à futura Administração de Barack Obama, quando o próprio futuro Presidente norte-americano se colocou recentemente numa posição descomprometida quanto à conclusão do sistema anti-míssil, prevista para daqui a dois ou três anos.
* ICBM - Intercontinental ballistic missile (Míssil Balístico Intercontinental)
MIRV - Multiple independently targetable reentry vehicle (Mísseis de Reentrada Múltipla Independentemente Direccionados)
SRBM - Short-range ballistic missile (Míssil Balístico de Curto Alcance)
* ICBM - Intercontinental ballistic missile (Míssil Balístico Intercontinental)
MIRV - Multiple independently targetable reentry vehicle (Mísseis de Reentrada Múltipla Independentemente Direccionados)
SRBM - Short-range ballistic missile (Míssil Balístico de Curto Alcance)
Gostei de ler, apesar de ser um leigo nestas "guerras".
ResponderEliminarA propósito de guerra,não acha que a coisa está a ficar de novo "fria"?...
Creio que não se irá travar uma nova "Guerra-Fria" nos mesmos moldes da que se travou de 1945 a 1991.
ResponderEliminarQuanto à rivalidade entre potências ela nunca deixou de existir, mesmo quando se proclamou o fim da História.
E se é possível arriscar algum prognóstico para o futuro é que o palco da rivalidade mais importante à escala global não será, apesar desta parafernália de mísseis, a russo-norte-americana.