06 novembro 2008

O MAIS REMOTO ENTREPOSTO ORIENTAL DO IMPÉRIO

A fotografia que vêem acima é a das ruínas do castelo da pequena cidade grega de Didymoteixo - cujo nome significa naquele idioma dupla muralha. É uma cidade que está situada no interior da Trácia, mesmo sobre a fronteira entre a Grécia e a Turquia e que, antes da adesão recente da Bulgária, seria a cidade continental mais oriental de toda a União Europeia. E é engraçado comparar a localização da cidade com aquela que seria a sua equivalente há 1800 anos atrás, que se chamava Dura Europos, outra cidade também de cultura helénica, mas que estava situada muito mais para Oriente, na Síria oriental (veja-se o mapa abaixo).
Dura Europos fora originalmente uma colónia macedónica, fundada por um dos sucessores imediatos de Alexandre Magno (Seleuco). O local de implantação havia sido cuidadosamente seleccionado por razões militares: a colónia localiza-se sobre uma pequena colina adjacente ao curso do Eufrates, na sua amrgem direita, dominando à distancia a planície aluvial por onde o Rio corre (veja-se abaixo). E, olhando mais uma vez para o mapa acima, dá para perceber como, ainda hoje, os sírios poderiam aproveitar aquela localização para ali estabelecer um bastião contra uma eventual invasão que viesse do Iraque.
Mas Dura Europos só veio a ser a cidade fronteira que lhe trouxe a prosperidade, a desgraça e a fama póstuma a partir de 165 d.C., quando os partos se viram forçados a cedê-la aos romanos (era então imperador Marco Aurélio). Nesse período de apogeu, que durou quase um século (165-256), Dura Europos foi a próspera alfândega das importantes rotas do comércio com o Extremo Oriente. Os arqueólogos desenterraram inscrições sobretudo em grego, mas também em latim, em dialécticos aramaicos e arábicos e em persa. Descobriram-se vários templos dedicados aos deuses romanos, um a Mitra, uma igreja cristã e uma sinagoga.
O que a sinagoga de Dura Europos tem de particular são as suas pinturas murais – algo que é terminantemente interdito pela religião judaica que exista num Templo! – de que aqui mostro duas cenas: a da descoberta de Moisés enquanto bebé, flutuando no Nilo (acima – atente-se à inusitada nudez da serva que o tira do rio) e a do transporte da Arca da Aliança sob o jugo dos Filisteus (abaixo – trata-se daquela mesma Arca que Indiana Jones veio a descobrir muitos anos depois…) que, naquele caso, aparecem equipados como soldados persas contemporâneos, a incarnação do mal da altura, os grandes inimigos de Roma naquela região.
Dura Europos acabou por ser evacuada pelos romanos em 256 d.C., no reinado do imperador Valeriano, mas também não veio a ser ocupada pelos persas, numa espécie de acordo tácito entre as duas potências para que se eliminasse uma posição que seria um permanente foco de conflito, sempre ameaçadora para a potência que não a ocupasse. Essa evacuação súbita preservou o local e transformou-o num daqueles sonhos de arqueólogo quando o vieram a redescobrir nos princípios do Século XX. Descobriram-se coisas muito interessantes mas nada baterá o judaísmo eclético que se deveria praticar naquela sinagoga…

1 comentário:

  1. Gostei muito deste post. É muitíssimo interessante por tudo; pelos vestígios inusitados, pelo grau de conservação, pelo local, enfim, o paraíso dos arqueólogos. Espevitaste-me a curiosidade.

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