02 novembro 2008

UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE UMA NACIONALIZAÇÃO

A propósito da recente notícia da nacionalização do BPN, permitam-me uma reflexão a propósito da fotografia acima, de Julho de 2004, onde se pode observar Kenneth Lay, o antigo CEO da Enron, a comparecer algemado a uma das sessões do seu julgamento, onde era o acusado principal daquilo que ficou conhecido como Escândalo da Enron, uma enorme Corporação norte-americana que faliu em 2001, com a cumplicidade da então maior empresa de auditoria do Mundo, a Arthur Andersen.

Conhecendo a capacidade daquele tipo de réus conseguirem mobilizar as melhores defesas judiciais, é sempre possível que uma fotografia como aquela possa ter muito mais impacto mediático do que conteúdo prático. Contudo, considerando os tempos que correm, não me chocaria que aqueles que foram responsáveis por terem conduzido o BPN para a situação em que se encontra (e que estarão identificados) sofressem o mesmo tratamento. Pode ser inconsequente, mas seria reconfortante.

Uma pequena nota final: Ao contrário da Enron, que contou com a cumplicidade da empresa de auditoria para esconder a sua situação real, no caso do BPN sucederam-se as empresas de auditoria, a Ernst & Young (1998), a PriceWaterHouseCoopers (1999/2000) e a Deloitte & Touche (2001/2002), que colocaram reservas sérias às contas do BPN, até este último descobrir uma auditora que fosse mais complacente nos seus relatórios. Assim, a responsabilidade pelo que terá acontecido situa-se mais acima

8 comentários:

  1. Como pode acontecer isto e ninguém ser responsabilizado? Só há equipas especiais chefiadas pela Mª José Morgado par averiguar uns manhosos resultados de uns jogos de futebol?

    :))

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  2. Não espero que José Sócrates vá por aí apesar de camaradas dele, como Medeiros Ferreira, o sugerirem no seu "Bicho Carpinteiro", mas já não seria mau se fossem tiradas consequências políticas justas da situação.

    Para já, ficamos com justas contribuições como a sua.

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  3. Caro A.Teixeira:

    Não foi só a arthur andressen que fez vigarices ao fechar os olhos, mas também a SEC e mais umas dezenas de companhias, entre os quais bancos e seguradoras, e a classe política( Bush pai e filho, que tinham uma quota inicial na Enron).

    A SEC autorizou em 99, salvo erro, uma forma de contabilidade chamada Mark-to-Market em que a Enron, o senhor lay e Jeff Skilling o Ceo "operacional" diziam a Wall street quais os lucros que a Enron iria ter no ano seguinte e isso ficava marcado na contabilidade, quer os lucros aparecessem e fossem reais quer não fossem.
    E Wall street "calculava" o preço das acções mediante esta forma de contabilidade que inflacionava 10 vezes o que valiam as acções da Enron.

    Em 1987, o senhor lay já tinha feito vigarices no negócio da compra e venda de futuros de petróleo via correctores da Enron e nada lhe aconteceu.

    Mas apesar de tudo, o caso da Enron é mais complexo do que o deste banqueco chamado BPN.

    Mas concordo que a culpa é do senhor Constâncio.

    Mas, tanto quanto sei,existe um governo que pode pedir explicações ao senhor constância e desalojá-lo do lugar.

    Só que é uma chatice ter que desalojar do lugar um manifestamente incompetente militante do partido socialista.

    Depois as pessoas reparavam e podiam fazer associações mentais de incompetência a outras a actuações do actual governo em relação a outras matérias e isso criava dificuldades ao actual governo...

    Além disso o actual governo só está vocacionado para atacar funcionários públicos e vendedores ambulantes de sardinha assada, automobilistas e enfermeiros, nunca principescamente bem pagos governadores do banco de Portugal.

    Dissidente-x

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  4. O que eu desejo, Maria do Sol, é que haja equipas especiais para averiguar tanto as falências dos bancos como os manhosos resultados de uns jogos de futebol.

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  5. Se bem interpretei o que Medeiros Ferreira escreveu no seu blogue, quando se refere a "boa-vontade pública perante erros de gestão privada", apenas acompanha o que escrevi neste poste até à parte "das algemas"... a dos responsáveis primários pela situação de falência.

    E aí, António Marques Pinto, dado o posicionamento político dos eventuais "fotografados", que é próximo do PSD, e descontando todo aquele blá-blá-blá da independência do poder judicial, até não me surpreenderia que José Socrates, ao contrário do que diz, "fosse por aí", e fizesse com que se organizasse um julgamento de arromba.

    Onde "a porca torce o rabo" é naquele aspecto que refiro no último parágrafo, a da responsabilização da actividade de supervisão do Banco de Portugal e do seu responsável máximo.

    Depois dos "desconhecimentos" de há 3 meses atrás sobre as manipulações das cotações das acções próprias do BCP, esta intervenção no BPN é uma nova "pedrada no charco", ainda as águas não estavam calmas. Se tecnicamente é muito embaraçoso, politicamente é ainda pior.

    Não nos esqueçamos que a grande virtude das decisões salomónicas (como a de afastar Constâncio) é a de ter coragem de sancionar pessoas por quem se tem estima pessoal. Mas muito me surpreenderia que Sócrates viesse a fazer o que deveria ser feito.

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  6. A minha intenção neste poste, Dissidente, não foi explicar o Caso Enron, apenas de servi dele para, nos casos em que viesse a propósito, o transpor para a questão do BPN. O seu contributo é, contudo, sempre útil, nomeadamente chama a atenção para como as pessoas associadas a golpes deste tipo já costumam ter prededentes. Entre nós, há alguns gestores sancionados (Tavares Moreira) e, se calhar, devia havr mais...

    Noto-lhe, todavia, que, ao contrário do que escreveu, não atribuí as culpas a Vítor Constâncio. Atribuí-lhe responsabilidades o que é coisa diferente. Os culpados encontrar-se-ão entre os membros das sucessivas administrações daquele Banco.

    É a responsabilidade por que os desmandos tivessem atingido a proporção que atingiram - e que culminaram nesta decisão - que pertence à autoridade reguladora, que é o Banco de Portugal e, por inerência, ao seu responsável principal, o Governador (desde 2000) Vítor Constâncio.

    Como pode perceber pelo comentário anterior, também estou muito céptico que, dadas as cumplicidades políticas, o governo consiga assumir a decisão de o afastar.

    Agora, onde não o posso acompanhar, Dissidente, é na crítica simultânea, usando um mesmo critério, às autoridades de supervisão que não fazem o seu trabalho, como terá sido aqui o caso do Banco de Portugal, e nas que o fazem, como será o caso da ASAE e mais os "vendedores ambulantes de sardinha assada" que refere.

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  7. A.Teixeira:

    O Tavares Moreira, já vem do caso Drexel, e não foi sancionado como devia...


    No caso de Vítor Constâncio, percebo a sua diferenciação, mas penso que já se pode falar de culpa, nesta altura, também.Foram muitos anos a "supervisionar" e as coisa aconteceram durante o "turno" dele.

    E exemplo ASAE foi dado para explicar que, enquanto essas fazem o seu trabalho com um zelo imenso, as autoridades de supervisão bancária, fazem o seu trabalho com um desleixo imenso.

    E eu também o acompanho no cepticismo existente no post posterior a este...

    Dissidente-x

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  8. Apenas para dizer que nem sequer consigo fazer uma ideia do "frou frou" dos rabos de palha que se agitam por aí, para lembrar quem protege quem, i. é, safa-me tu agora que eu já te safei antes ou hei-de safar-te um dia.
    Essa do Sócrates promover a organização dum julgamento de arromba, remete-me para o lançamento do livro "O menino de ouro do PS" e dos "elogios emocionados" ao mesmo...e sorrio, apenas, porque já não sou capaz de rir com estas rábulas.

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