Little Rock é a capital e a cidade mais importante do estado norte-americano do Arkansas, estado de onde é originário o ex-presidente Bill Clinton. Normalmente o Arkansas (abaixo) é um daqueles estados discretos, que acabou por alinhar com os Confederados durante a Guerra Civil norte-americana (1861-65) porque as posições a nível federal já estavam extremadas e parecia não haver opção quanto ao partido a tomar: 25% da sua população era composta por escravos. E depois da Guerra, o Arkansas passou a praticar a segregação racial...
Em 1954, sob a presidência de Eisenhower (1953-61), o Supremo Tribunal Federal declarara que o ensino segregado era uma prática inconstitucional. Por consequência, tornava-se obrigatório dessegregar os estabelecimentos de ensino onde existia essa prática – e a esmagadora maioria desses estabelecimentos estavam situados nos estados sulistas. Um deles era o Liceu de Little Rock e uma organização pró-integracionista, a NAACP (1) forçou os acontecimentos, e inscreveu nove (excelentes) estudantes negros para o ano lectivo 1957-58.
A decisão de aceitar os estudantes negros veio a gerar uma enorme reacção dos sectores mais conservadores da população e, segundo a imprensa local, a dar uma imagem de hesitação do governador estadual. Este reagiu com uma medida que resolveu esse seu primeiro problema: convocou a Guarda Nacional para que ela criasse um perímetro á volta do Liceu. Mas a medida arranjou-lhe um outro problema, e esse à escala nacional, quando as fotografias de militares a cercar um Liceu (acima) chegaram ao resto da América, incluindo Washington:
- Para que raio era aquilo? Para proteger os estudantes negros da multidão? Não se via nada… (acima) Ou para impedir os estudantes negros de entrarem no Liceu? E então seriam mesmo preciso militares para o fazer? A posterioridade fez do governador, Orval Faubus, o mau da fita, mas a verdade mais provável é que a convocatória da Guarda Nacional para os arredores do Liceu fosse mais uma manobra política que lhe permitisse manter várias opções em aberto. Aliás, muitos factos da carreira política de Faubus indiciam que ele seria o mais pragmático dos racistas (2).
A decisão de aceitar os estudantes negros veio a gerar uma enorme reacção dos sectores mais conservadores da população e, segundo a imprensa local, a dar uma imagem de hesitação do governador estadual. Este reagiu com uma medida que resolveu esse seu primeiro problema: convocou a Guarda Nacional para que ela criasse um perímetro á volta do Liceu. Mas a medida arranjou-lhe um outro problema, e esse à escala nacional, quando as fotografias de militares a cercar um Liceu (acima) chegaram ao resto da América, incluindo Washington:
- Para que raio era aquilo? Para proteger os estudantes negros da multidão? Não se via nada… (acima) Ou para impedir os estudantes negros de entrarem no Liceu? E então seriam mesmo preciso militares para o fazer? A posterioridade fez do governador, Orval Faubus, o mau da fita, mas a verdade mais provável é que a convocatória da Guarda Nacional para os arredores do Liceu fosse mais uma manobra política que lhe permitisse manter várias opções em aberto. Aliás, muitos factos da carreira política de Faubus indiciam que ele seria o mais pragmático dos racistas (2).
O presidente Eisenhower, como general que era, embora não parecesse muito sensível às questões do racismo, era hipersensível às da autoridade, e era a autoridade federal que estava a ser desafiada em Little Rock. E, numa demonstração de força ainda mais forte do que a do governador, em vez dos militares da Guarda Nacional, Eisenhower convocou unidades da 101ª Divisão Aerotransportada (uma das unidades de elite do Exército norte-americano) para que eles assegurassem a protecção próxima dos nove estudantes negros (abaixo).
Com excepção da retórica exagerada dos brancos mais radicais, a chegada das forças federais puseram fim aos incidentes que ainda perduraram pelo Outono de 1957 (3). Foi, e continua a ser, um episódio famoso da luta pela igualdade dos negros norte-americanos, e por isso, é muito emocional, tão repleto de imagens quanto falho de análises. Notem-se a segunda e a terceira e fotografias deste poste, quase idênticas, mas tiradas de ângulos diferentes (4). Note-se como a de baixo (a 3ª, muito mais conhecida) se vêem militares (do lado esquerdo, ao fundo, a observar passivos o que se passa) que não aparecem na outra fotografia, mais canónica...
Esta história não terminou ali: para não ter turmas integradas, os radicais segragacionistas forçaram a direcção do Liceu a encerrar as suas actividades durante o ano lectivo 1958-59. Brancos e negros tiveram de continuar os estudos noutro lado. Depois, no ano lectivo seguinte, o Liceu foi forçado a reabrir, novamente integrado. Mas ficou para sempre assinalado aquele marco da História, que recebeu recentemente, 51 anos passados, uma contribuição enorme com a eleição de Barack Obama para a presidência. Todavia, há algo nesta História a que nunca me conseguirei habituar:
Trata-se do carácter absolutamente binário da classificação de raças que é praticado pelos anglo-saxónicos. É que, não influenciando as práticas racistas por causa disso, a classificação portuguesa costuma ser cheia de subtilezas, desde o negro até ao branco, passando pelo mulato e pelo cabrito. Nestas duas últimas fotografias, haveria quem se classificasse nessas várias categorias, a começar por Obama, que seria um mulato. A classificação americana arrepia-me: parece haver os brancos puros e tudo o resto é classificado genericamente como negros, como se essa ascendência conspurcasse…
(1) National Association for the Advancement of Colored People (Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor).
(2) De facto, Faubus reagira daquela forma porque estava a ser criticado pela imprensa conservadora e racista. Previamente, Faubus já havia tomado medidas para dessegregar os transportes públicos no Arkansas. E, sintomático da sua popularidade, nas várias eleições estaduais a que concorreu, antes e depois deste incidente, Faubus sempre conseguiu recolher mais de ¾ dos votos dos negros.
(3) Neste caso justifica-se a ausência de acompanhamento atempado por parte daquela criança prodígio da geração Kennedy chamada José Sócrates Pinto de Sousa: ela apenas tinha acabado de nascer…
(4) Trata-se de Elizabeth Eckford, uma das seis estudantes do grupo de nove, a dirigir-se para o Liceu debaixo dos insultos dos manifestantes brancos que a rodeavam.
(1) National Association for the Advancement of Colored People (Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor).
(2) De facto, Faubus reagira daquela forma porque estava a ser criticado pela imprensa conservadora e racista. Previamente, Faubus já havia tomado medidas para dessegregar os transportes públicos no Arkansas. E, sintomático da sua popularidade, nas várias eleições estaduais a que concorreu, antes e depois deste incidente, Faubus sempre conseguiu recolher mais de ¾ dos votos dos negros.
(3) Neste caso justifica-se a ausência de acompanhamento atempado por parte daquela criança prodígio da geração Kennedy chamada José Sócrates Pinto de Sousa: ela apenas tinha acabado de nascer…
(4) Trata-se de Elizabeth Eckford, uma das seis estudantes do grupo de nove, a dirigir-se para o Liceu debaixo dos insultos dos manifestantes brancos que a rodeavam.
Não tenho nada a haver com cultura
ResponderEliminaranglo-saxónica,mas sou,incorrectamente(?)binário.Para
mim não há mulatos,não há cabritos,
há,simplesmente,negros.Não nasci,
como penso ser o seu caso,em África
mas grande parte do meu coração
encontra-se lá.Conheci África em
condições que nunca deveriam ter
exiistido,conheci África em guerra,
conheci África como combatente.
Nesta condição,com muita honra,
comandei militares negros,não
discutindo agora se estavam certos
ou errados.Vivi com eles 24 sobre 24 horas durante dois anos na terra
vermelha da Guiné.Tenho lá voltado,
os que ainda estão vivos,chamam-me
não amigo,mas irmão,e hoje também
tenho irmãos, negros, nalguns adversários que outrora eram chefes
de bigrupos e comandantes do PAIGC.
Chego a pensar,apesar de branco,
terei sangue negro nas minhas veias
não consigo separar os homens por
cor de pele,gosto que um dos meus
irmãos negros,infelizmente infectado,com HIV fique em minha
casa quando tem de vir à consulta
a Portugal.A guerra foi uma tragédia,a única coisa boa que
ficou foram os laços inquebráveis
de amizade entre combatentes ,no meu caso entre um branco
e negros que combateram ao meu lado
mas,hoje,junto a esses alguns do
denominado IN de outrora.São os
meus irmãos negros,não são mulatos,
nem cabritos,não são fulas,papéis,
mandingas,beafadas,são negros,são
guineenses.O Obama,para mim,é negro
e,fora a orientação política,senti
grande emoção com esta eleição, não
só por mim,principalmente pelos
amigos negros,para eles será,talvez,uma luz no fundo do
túnel.
Ainda não percebi porque chamam,
nos USA,afro-americanos aos negros.
Nunca ouvi o termo afro-europeu.No
passado Domingo,chamaram ao Leuwis
Hamillton inglês e negro,não afro-
-inglês.
Este comentário é possível que
esteja mais escrito com o coração
do que com os dedos,peço desculpa
mas não vou corrigir.
Abraço
este blog é muito diferente do meu, mas como gosto da diversidade e de aprender, vou leva-lo para casa.
ResponderEliminarPenso que esses americanos, brancos puros, não passarão de brancos encardidos, no jargão dos arianos neonazis europeus.
ResponderEliminarA propósito de subtilezas, que dizer do “bronzeado” com que o labrosta do Berlusconni mimou Barak Obama e do sorriso alvar do títere que estava a seu lado.
Certamente, Paulo Santiago, haverá ocasião no futuro para que troquemos impressões sobre o assunto que escreveu. Mas creio que não tem a ver com o que aqui escrevi no último parágrafo deste poste.
ResponderEliminarJRD, confesso-lhe que não posso responder ao desafio que me lança, pois não vi as imagens que relata.
De entre coisas gostei de ver a "conversa" do Paulo.
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