11 novembro 2008

UMA OUTRA VERSÃO DO VERÃO AZUL

Ao ARTUR:

A primeira curiosidade deste outro Verão Azul é que se desenrolou bastante tempo antes do Verão Azul espanhol. Havia menos protagonistas. Não havia bicicletas. Os adultos tinham um papel residual. E a ida para a praia envolvia o ritual diário de apanhar um barco da carreira numa interminável viagem que chegava a durar uma hora na baixa-mar. Episódios dessas viagens seriam um (longo) anexo aparte a este poste.

Um dos protagonistas deste outro Verão Azul é um moço que, se bem me lembro, todos os verões, se apaixonava para aí umas duas ou três vezes… E de cada uma dessas vezes a paixão batia sempre forte…. Um desses coups de foudre durou toda uma viagem a desencadear-se, numa viagem do tal barco da carreira ronceiro que ligava Olhão à praia do Farol. No fim da viagem, o apaixonado estava rendido aos encantos da paixão.
O problema maior era a falta de intimidade entre o promitente casalinho. O objecto de tanta paixão passara a viagem sentada a uns três ou quatro metros de distância, enquanto contava a quem a acompanhava uma história trivial mas pouco abonatória da sua pessoa: a maneira como chumbara o (antigo) quinto ano… E contara-a com todos os detalhes que uma viagem longa permitia contar. Apenas se esquecera de se apresentar…

Isto é mesmo uma história de ficção histórica. Naquele tempo ainda se chumbava e a expressão apanhar uma raposa ainda era reconhecida… E esse pormenor tornou-se importante quando surgiu o impasse da designação a dar àquela nova Cinderela de nome desconhecido, cujo sapatinho que deixara era uma história de um chumbo… Alguém por perto propôs que se adoptasse a alcunha de Fox, em alusão à sua proeza escolar.
E Fox ficou… Agora que recapitulei a história, concluí que aquela paixão, companhia de inúmeras outras viagens nos tais barcos ronceiros, causadora de infindáveis suspiros, se calhar nunca chegou a ter o verdadeiro nome… Ou se calhar chegou, mas chegou tarde: ou já passara a paixão, ou o nome verdadeiro era de uma tal banalidade que só retirava mistério aos seus encantos, e o apaixonado continuou a preferir tratá-la pela alcunha original

2 comentários:

  1. Era um tempo em que as hormonas andavam a uma velocidade 10 vezes superior à da consciência ou da razão. Se acrescentarmos a isso tudo um ano escolar inteiro num internato onde só havia homens e cavalos e...vá lá...roupeiras simpáticas com 70 anos de média de idades, as pobres hormonas, dizia, quando chegava o Verão ligavam o Turbo. Já nem me lembro da cara da "Fox" embora me lembre perfeitamente da história. Mas lembro-me de milhares de outras coisas e pessoas. Como o "Cárlinhos", piloto de um dos ferries, cego como uma toupeira míope, sósia perfeito do Antony Quinn. Para a história ficou célebre a sua frase mais usada. Cerca de meia hora após a saída do cais em Olhão, o "Cárlinhos" metia a cabeça para fora da cabine de pilotagem e perguntava ao primeiro passageiro que conseguia focar: "Menine? Veja lá aí se já "passômes" da bóia... E havia também a São, a Guida, a outra Guida, as manas Galvão e toda uma fauna a quem eu e tu batizávamos até à morte, inventando enredos permanentes dignos de um jovem Spielberg, caso ele tivesse nascido no terceiro mundo. Ah, e Last but not Least: Bombas artísticas de uma perna dobrada que choviam em cima dos tristes que se iam embora antes de nós. Para acabar: o meu puto mais velho este Verão trabalhou no restaurante do João Bento ( que agora tem outro nome) para fazer uns trocos para o interrail. Obrigado pela dedicatória. 1 abraço
    ARTUR

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  2. Caramba, isso é que é memória! Pudera, a maioria dos nomes que citas são de ex-namoradas tuas… É com pudor que confesso que me lembro mais das alcunhas...

    Houve um ano em que foste para baixo mais cedo e quando lá cheguei já te encontrei “instalado” com a tua primeira “paixão” da “saison” – a “Mercearia”, paixão que afinal nunca se veio a revelar vantajosa do ponto de vista prático…

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