Retirados dos arquivos televisivos franceses, estes dois resumos de reportagens dos finais da década de 60, mostram-nos uma concepção simplificada mas também a genuína preocupação como em França se acompanhava a evolução da situação política portuguesa. As reportagens foram feitas, respectivamente, em Outubro de 1968 (a de cima), na sequência da substituição de Salazar por Marcello Caetano, e em Novembro de 1969 (abaixo), imediatamente depois de se constatar que as eleições organizadas pelo novo Presidente do Conselho se haviam revelado um fracasso em termos de sinais da abertura política do regime.
Mas qualquer das duas peças não se furtam ao acompanhamento a fados e guitarradas de acordo com a concepção de índole turística a que então em França se reduzia o nosso país. Contudo, acaba por se revelar curioso o choque geracional revelado pelo contraste entre os dois entrevistados. Acima trata-se de Augusto de Castro, o sempiterno director de então do oficioso Diário de Notícias, nascido em 1883, portanto da geração de Salazar e que o defende. Abaixo reconhece-se (embora sem barba!) Manuel Alegre, nascido em 1936, a voz reconhecível da rádio A Voz da Liberdade, a emitir a partir de Argel, e que crítica e renega a herança salazarista.
Há ali 53 anos a separá-los e às sua concepções antagónicas, mas a ironia de quem hoje as observa é que não é incomum encontrar naqueles que nasceram 53 anos depois de Alegre (i.e., por volta de 1989) quem renegue por sua vez a herança que a geração de Alegre quer deixar, enquanto se mostra de uma benevolência extrema para com a deixada pela de Salazar...
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