Trata-se de uma pequeníssima história, ínfima perante a enormidade do que foi o embate titânico entre os exércitos alemão e soviético na Frente Leste da Segunda Guerra Mundial. Na fase final da Batalha de Stalinegrado, já para lá da Ucrânia mas onde o exército alemão veio a sofrer uma das suas mais pungentes derrotas, quando as forças alemãs já se encontravam inexoravelmente cercadas pelas soviéticas, o reabastecimento das primeiras já só se podia fazer com lançamentos por para-quedas. A precisão era pouca e muitos dos contentores vinham cair em área já ocupada pelos soviéticos. Num desses contentores capturados, os soviéticos encontraram embalagens de cigarros de origem portuguesa, uma oferta de Portugal para elevar a moral dos combatentes alemães, gesto que rapidamente se tornou em artigo de propaganda para ser usado pelos serviços em português de Rádio Moscovo.
O que mais marcou os ouvintes portugueses no anúncio daquela captura foi a constatação do quanto os comunistas portugueses exilados estavam dissociados da realidade quotidiana do seu país: ao descrever a marca dos cigarros o locutor leu-a Vinte e Vinte e Vinte, ignorando como ela era conhecida comumente na rua: Três-Vintes – de 20 cigarros, 20 gramas e 20 centavos. Mas, na substância, a notícia foi eficaz, levando os ouvintes a perguntarem-se qual o nosso interesse em imiscuirmo-nos num conflito entre grandes potências que se travava no outro extremo da Europa. E, com esta constatação, permitam-me regressar ao presente e à pergunta sobre o que será o nosso interesse nacional na disputa – desta vez felizmente pacífica – que se trava entre alemães e russos pelo controlo da Ucrânia. E não se recorra ao estribilho da nossa solidariedade europeia: de há dois anos para cá que os portugueses não têm sentido outra coisa…
ResponderEliminarPelo menos formalmente, o choque que divide a Ucrânia é entre a Rússia e a União Europeia.
Quanto à capacidade de influência que a Polónia (e Lituânia) - por alternativa à Alemanha - poderão ter dentro da União sugiro-lhe um exercício simples, Luís Lavoura:
- Levante-se e pergunte o nome do primeiro-ministro polaco às primeiras cinco pessoas que encontrar. E depois pergunte a esses mesmos cinco o nome do chanceler alemão...
Se, para analisar tensões internacionais e para extrair certezas delas, se socorre do "valor facial" das declarações diplomáticas, ainda se arrisca a descobrir que Frau Merkel teria imenso gosto que a Turquia entrasse para a União...
Este tipo de "reportagens", sobre as antigas Repúblicas Soviéticas e sobretudo na própria Russa tem um "guru" de peso, o fabuloso Evgueny Mouravitch.
ResponderEliminarNas eleições de 2012 Putin foi eleito com 63,64% (goste-se ou não).
Pois acontece que, em várias reportagens efetuadas por este "jornalista" conseguiu entrevistar vários cidadãos russos (só numa delas foram cinco) contra o Putin e não arranjou um único apoiante.
É obra.
Podemos "trocar cromos", Fernando Frazão.
ResponderEliminarEm 2002, por ocasião da 2ª volta das eleições presidenciais francesas de 2002, havia uma enviada especial - não juraria, mas apostaria que era Márcia Rodrigues - que se passeava pelas ruas de Paris perguntando às pessoas o que é que elas achavam da passagem à 2ª volta de Jean-Marie Le Pen, para que elas se indignassem condignamente.
Tudo se estragou quando ela escolheu interpelar um sexagenário de aspecto distinto que lhe respondeu com a maior das tranquilidades que achava óptimo: ELE tinha votado em Le Pen.
Grande lição de jornalismo para Márcia Rodrigues: "alguém" tinha depositado os quase cinco milhões de votos que Le Pen recebera...