Quem ainda se recordar do filme Slumdog Milionaire lembrar-se-á da repugnante cena em que o protagonista, em busca de um autógrafo numa fotografia de uma vedeta predilecta, mergulha literalmente na poça de merda (acima) que fora deixada pelos utentes do estabelecimento (não sei se lhe poderíamos chamar cagatório…) onde trabalhava.
Esclareça-se que a cena não foi desencantada de um nada porque a questão da insuficiência e da precaridade dos sanitários da Índia conjuntamente com a sociologia envolvente às actividades desenvolvidas quando naquele local, é algo que é muito típico e específico da realidade indiana.
Uma especificidade que se descobre, paradoxalmente, já ser longínqua: encontraram-se nas ruínas de Mohenjo-daro, um sítio arqueológico expoente da antiga civilização do Vale do Indo de há 4500 anos, as primeiras sanitas incorporando um dispositivo de descarga equivalente ao nosso autoclismo moderno (acima).
Contudo, a Índia moderna apresenta números deploráveis no que diz respeito ao saneamento: no Censo de 2011 apurou-se, por exemplo, que ainda havia 4.861 cidades e vilas que não dispõem de qualquer rede, nem mesmo parcial, de esgotos. E, sendo essa a situação sanitária nos meios urbanos, nos rurais ainda é muito pior.
Por isso pode-se afirmar de uma forma bombástica que a Índia possui uma melhor cobertura na rede de telemóveis do que na rede sanitária. Ou que é mais fácil telefonar do que fazê-lo com as mãos lavadas. Mas o paradoxo não se esgotará aí, porque, noutra perspectiva, a capital indiana conta com um dos mais bizarros museus do Mundo.
O Sulabh International Museum of Toilets em Delhi reúne uma mostra única de sanitas e outros adereços relacionados com o acto numa colecção que sobretudo se estranha por atrair visitantes. A Sulabh International é, de resto, uma ONG que tem por objectivo a promoção da instalação daqueles dispositivos por toda a Índia.
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