23 maio 2013

UMA AUSÊNCIA FLAGRANTE

Domingo, 8 de Dezembro de 1918. Ainda não se passara um mês depois do Armistício que pusera fim à que então ficara conhecida por Grande Guerra. A cidade de Metz, capital da Lorena, que a França perdera em 1871 para a Alemanha, acabara de ser reocupada pelos franceses como o Le Petit Journal desse mesmo dia proclamava em toda a sua primeira página. E deliberadamente os franceses elegiam-na para local da cerimónia de entrega do bastão de Marechal de França àquele que fora um dos grandes vencedores do conflito: Philippe Pétain. Do lado direito da fotografia abaixo, vê-se o Presidente da República Raymond Poincaré que iria proceder à entrega do bastão, acompanhado ao seu lado direito pelo Presidente do Conselho e chefe do governo, Georges Clemenceau. São os dois únicos protagonistas civis da cerimónia. Ao centro está o homenageado envergando uma farda clara. Por detrás perfilam-se as altas patentes francesas e aliadas. Da esquerda para a direita, identifica-se o Marechal Joseph Joffre, o General Maxime Weygand, ligeiramente mais recuado que os restantes, e o Marechal Ferdinand Foch, todos franceses; seguem-se o Marechal Douglas Haig, britânico, o General John Pershing, norte-americano, o General Cyriaque Gillain, belga, ligeiramente encoberto, o General Alberico Albricci, italiano, e o General Józef Haller, polaco.
O que será significativo para nós, nesta fotografia em que estão representados ao mais alto nível todos os exércitos presentes na Frente Ocidental (até mesmo o recém-formado exército azul polaco), é a ausência na cerimónia de um oficial general português. Pesquisei, mas não consegui encontrar explicações para aquele lapso tão flagrante, mas sejam as explicações atribuíveis a uma ausência involuntária da parte portuguesa ou a uma descortesia voluntária da parte francesa, o pormenor não terá deixado de ter tido o seu significado e as suas repercussões. Note-se que na época Portugal era dirigido pelo Presidente Sidónio Pais, reputado interna e externamente pela sua germanofilia, que então procurava apanhar o comboio da vitória: uma semana antes, a 30 de Novembro, numa sua distribuição de honras nacionais também ele condecorara os Marechais Foch, Haig e Joffre com Grã-Cruzes das Ordens da Torre e Espada e de Santiago da Espada. Porém e por coincidência, registe-se que Sidónio Pais viria a morrer assassinado no Sábado seguinte, a 14 de Dezembro de 1918.

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