Al Buraimi é um oásis remoto no interior da península arábica como se pode ver acima, assinalado no mapa. Tradicionalmente a suserania daquela região havia pertencido ao sultão de Omã quando em 1949 o rei da Arábia Saudita apresentou a reivindicação de que essa região seria sua. A pretensão saudita afectaria o traçado (acima, a tracejado) das suas fronteiras tanto com o sultanato de Omã como com o emirato do Abu Dhabi, o maior, o mais importante e o mais ocidental da federação que constitui os actuais Emirados Árabes Unidos. Nessa época as duas monarquias (o sultanato e o emirato) eram ambas protectorados britânicos e, por outro lado, detrás das ambições sauditas não era difícil identificarem-se os interesses da Aramco.
A Aramco era a empresa responsável pela exploração do petróleo da Arábia Saudita. Era um consórcio de algumas das grandes petrolíferas norte-americanas, as Standard Oil da Califórnia, de Nova Jersey (veio a ser a Exxon) e de Nova Iorque (tornou-se depois na Mobil) associadas à Texaco. A área reivindicada era mais importante que o oásis porque se localizava numa zona muito prometedora (veja-se abaixo) quanto à existência dos maiores e mais rentáveis campos petrolíferos do Médio Oriente. A Arábia Saudita já era uma produtora de petróleo desde 1939 mas os britânicos, talvez por serem ainda plenamente abastecidos pelo petróleo iraniano não viam razões para dinamizar a sua prospecção noutros locais da região que tutelavam. Posteriormente na região disputada também se vieram a descobrir jazidas de petróleo.
A manobra saudita, patrocinada pela Aramco, começou por fazer-se sentir no terreno através de uma incursão de um emir saudita acompanhado de uma escolta oficiosa que atenuava a formalidade da invasão e que se instalou numa das três aldeias do oásis em 1952. Em vez de resolver o problema da forma tradicional, correndo os intrusos a tiro, os britânicos persuadiram os dois monarcas afectados (o sultão de Omã e o emir do Abu Dhabi) a resolverem a disputa de forma civilizada, levando-a à avaliação de um tribunal arbitral. Mas os próprios britânicos perderam a paciência quando os opulentos sauditas atrapalharam as negociações formais com tentativas pouco discretas de subornar juízes e intervenientes da parte contrária.
Em 1955, o Reino Unido deu a sua cobertura a uma operação militar conjunta de omanitas e de soldados ao serviço do Abu Dhabi, enquadrada por oficiais britânicos que culminou com a expulsão dos sauditas. A então recém-formada unidade militar do Abu Dhabi tornou-se a antecessora das actuais forças armadas dos Emiratos. A atitude britânica provocou uma certa azia do outro lado do Atlântico e o assunto tornou a ser várias vezes ventilado, especialmente quando as relações entre os dois países anglo-saxónicos atingiram um nadir por causa da Crise do Suez de 1956, mas a disputa não voltou a ter grande visibilidade até à sua resolução em 1974, já depois das independências dos Emiratos Árabes e de Omã (1971), através da assinatura de um Tratado de Fronteiras. Um livro a sair proximamente poderá acrescentar alguns pormenores importantes a esta história.
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