28 maio 2013

OS DOIS MARECHAIS E A CAMPANHA DA NORMANDIA

Nesta fotografia, descaradamente posada para fins de propaganda, juntam-se dois dos mais proeminentes Marechais-de-Campo alemães da Segunda Guerra Mundial, Gerd von Rundstedt (1875-1953), à esquerda, em representação dos seniores, e Erwin Rommel (1891-1944), em representação dos juniores. Há 16 anos a separá-los, assim como um desdém recíproco que é mais conhecido da parte de Rundstedt que junto dos homens do seu “staff” não se inibia de tratar o seu camarada desdenhosamente por bubi marschall (marechal bebé), por causa da sua ascensão fulgurante. Mais discreto, o desdém de Rommel exprime-se e esconde-se numa condecoração que ele usa por detrás das Cruzes de Ferro que ambos envergam: a Pour Le Mérite, a condecoração mais prestigiada da Alemanha imperial, conferida por excepcionais feitos de bravura em combate, e a que Rundstedt nunca poderia aspirar por ter passado a Primeira Guerra Mundial principalmente nos papéis, em funções de estado-maior. 

Mas, mais do que diferentes concepções de prestígio – aquilo que o primeiro consideraria arrivismo e o outro meritocracia – são as concepções tácticas que os separam em Dezembro de 1943, data da fotografia: como reagir ao mais do que provável desembarque dos Aliados que se espera na Frente Ocidental nos próximos meses (terá lugar a 6 de Junho de 1944). Rommel quererá travar os invasores ainda nas praias, antes que eles se consigam organizar; Rundstedt considera que o momento crucial será outro e é para esse que é preciso estar preparado: quando das ofensivas que os Aliados serão forçados a desencadear após os desembarques. Para o desenrolar da Campanha da Normandia terá prevalecido a concepção de Rundstedt, mas o desfecho não teria sido muito diferente nem muito menos sangrento da forma preferida por Rommel. Que se tome isso como uma lição para quem espera uma inflexão política significativa na Alemanha depois das próximas eleições deste próximo Outono…

3 comentários:

  1. a que Rundstedt nunca poderia aspirar por ter passado a Primeira Guerra Mundial principalmente nos papéis

    Coitado do homem, na 1ª guerra mundial já tinha 50 anos de idade, já não podia ir combater. Se estava nos papeis é porque não podia estar nas trincheiras.

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  2. Correção: não tinha 50 anos de idade, tinha 40. De qualquer forma já não tinha idade para estar nas trincheiras.

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  3. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial a Alemanha procedeu à mobilização de todos os seus cidadãos reservistas dos 18 aos 55 anos.

    Embora os mais velhos estivessem naturalmente destinados às funções de retaguarda não era nada incomum encontrar nas trincheiras, tanto do lado alemão como do francês, soldados com 40 e mais anos.

    Em "A Oeste Nada de Novo", um romance de 1929 do alemão Erich Maria Remarque baseado na sua experiência pessoal nas trincheiras durante a Primeira Guerra Mundial, existe, por exemplo, um camarada do narrador chamado Katczinsky que terá essa idade. Também em "O Fogo" do francês Henri Barbusse aparecem vários camaradas das trincheiras de idade "madura".

    Se ainda não os leu, sugiro-lhe que o faça. A leitura e o conhecimento substituem com vantagem a assertividade e a veemência quando se comenta.

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