O escândalo dos financiamentos da CDU desencadeou-se em princípios de Novembro de 1999 com a prisão de Walter Leisler Kiep que fora um antigo tesoureiro do partido entre 1972 e 1992. A acusação era que em 1991 Kiep recebera um donativo de um milhão de marcos de um negociante de armas germano-canadiano chamado Karlheinz Schreiber e o dinheiro nunca aparecera na contabilidade oficial do partido. Kiep foi confessando os factos, a começar pelo recebimento da doação em cash numa mala numa área de serviço de uma auto-estrada suíça, e implicando sucessivamente vários membros destacados da cúpula da CDU que estava então na oposição. Ainda nesse mês, o antigo chanceler e presidente do partido Helmut Kohl estava atascado no escândalo, proclamando um desconhecimento do assunto que os implicados de mais baixa categoria desmentiam. Pouco mais de um mês depois, acontecia o mesmo ao seu sucessor à frente da CDU envolvendo agora um envelope de cem mil dólares, sucessor esse que era nada mais nada menos, que o nosso estimado Reichsprotektor Wolfgang Schäuble.
Mais de treze anos passados, as consequências quase inócuas do escândalo para os políticos envolvidos – Kohl, que foi o mais penalizado por se recusar a divulgar ao tribunal o nome dos autores das doações, foi condenado a pagar 75 mil Euros de multa e a doar outro tanto para caridade – permitirão especular se não se terá tratado de uma operação interna na CDU para remover a facção protagonizada por Helmut Khol e pelo seu sucessor Wolfgang Schäuble e substitui-la por outra que se poderia apresentar com as mãos mais limpas, encabeçada pela então secretária-geral da CDU, fadada para se vir a tornar em 2005 a chanceler da Alemanha: a também muito estimada por nós Angela Merkel. Mesmo não tendo sido assim, não deixa de ser surpreendente o apagamento que o escândalo recebeu na memória colectiva: não se torna obrigatório referi-lo quando se faz uma qualquer recapitulação da carreira e da biografia de Helmut Kohl. Kohl podia estar envolvido em negócios sujos mas era bom rapaz, foi um grande estadista. Mas convém relembrar o escândalo quando parece estar a circular tanta argumentação impregnada de moralidade entre os países do Sul e do Norte da Europa…
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