O novo regime ainda não completara uma semana e já o novo jornalismo demonstrava aquele mesmo engajamento que tanto fora criticado ao que o precedera, aqui demonstrado pelo protagonismo de Adelino Gomes que, por uma primeira vez, estaria ali por acaso a fazer a locução das cerimónias do primeiro 1º de Maio comemorado em liberdade em Portugal. Também por acaso, o jornalista aparece na foto mais próximo do microfone do que aquelas que serão as duas figuras centrais do acontecimento: Álvaro Cunhal e Mário Soares. Deduzindo que Adelino Gomes não se teria inibido de transmitir depois, nos outros ógãos de comunicação para onde trabalhasse, as suas impressões sobre o evento, isto é o que se pode chamar o retrato de uma cobertura mesmo em cima do acontecimento, mas também é o retrato de uma promiscuidade permanente e politicamente transversal entre aquilo que se pretende passar por jornalismo e o engajamento político… Adelino Gomes pode ser considerado um dos patriarcas de uma tradição jornalística nacional que culminou recentemente na nomeação de um seu colega bastante mais novo e, ao contrário de si, de coloração garridamente laranja e pessoalmente próxima de quem exerce o poder, para a secretaria de estado dos negócios estrangeiros, deixando a suspeita de que o recém-nomeado nem saberá que há três capitais na África do Sul, esqueça-se a capacidade dele saber quais elas serão…
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